Soledad Álvarez.
A blogueira cubana Yoani Sánchez planeja fazer bom
uso da "sua vitória" e embarca em um tour de 80 dias para mais de 10
países, neste domingo (17). Sanchez visitará a sede do Google, Twitter e
Facebook e viajará para o Brasil, Argentina, Peru, México, Estados Unidos,
Espanha, Itália, Polónia, República Checa e outras nações. A blogueira foi
beneficiada pela reforma migratória de Cuba em vigor há um mês que elimina
diversas restrições para saída do país.
Havana, 17 fev
(EFE).- Após cinco anos recebendo negativas do Governo de Cuba para poder sair
de seu país, a blogueira opositora Yoani Sánchez pôde entrar em um avião neste
domingo para empreender uma viagem internacional, que começará pelo Brasil e só
foi possível pela reforma migratória vigente desde janeiro na ilha.
Com o logotipo de
seu famoso blog "Geração Y" impresso em sua mala de mão, Yoani, de 37
anos, passou sem maiores problemas pelo controle migratório do aeroporto de
Havana para tomar um voo rumo ao Brasil, primeira escala de um périplo de 80
dias que a levará a uma dezena de países da América e da Europa.
"Isto será como a volta ao mundo em 80
dias", brincou a filóloga cubana em declarações a jornalistas no Aeroporto
de Havana, onde chegou esta manhã muito cedo acompanhada de um grupo de
parentes e amigos.
Yoani Sánchez, cujo olhar crítico sobre a realidade
cubana foi reconhecido com múltiplos prêmios internacionais que nunca pôde
receber pessoalmente, disse sentir-se como em um "sonho", mas com um
"sabor agridoce" pelas limitações migratórias que persistem em seu
país.
"Estou muito feliz, embora com essa sensação
do corredor de 110 metros com barreiras que chega esgotado, suado e até
machucado, mas que no final ganha a corrida. Venci uma pequena batalha pessoal,
jornalística, cidadã e jurídica", manifestou.
No entanto, lamentou que a reforma migratória ainda
não contemple o fato de entrar e sair de Cuba como um "direito inerente,
pelo mero fato de ter nascido nesta ilha. Isso é uma grande limitação".
Yoani Sánchez saiu hoje de Cuba, mas para voltar a
seu país dentro de algumas semanas sem medo que as autoridades não a deixem
retornar: "Eu reúno todos os requisitos legais para o retorno".
Nos últimos anos, a autora de "Geração Y"
foi uma das vozes que mais denunciou o que ela denomina como "absurdo
migratório" de Cuba, onde sair do país legalmente requeria a permissão das
autoridades e de embaraçosos, caros e restritivos trâmites.
A maior parte dessas limitações foi suprimida com a
reforma que entrou em vigor no último dia 14 de janeiro e agora só é necessário
ter o passaporte em dia e o visto que exigir o país de destino para viajar ao
exterior.
No entanto, algumas restrições foram mantidas, já
que, por exemplo, podem ser negados passaportes por razões de "interesse
público" ou "segurança nacional", e para determinados
profissionais considerados "vitais" para o país é necessária ainda
uma permissão especial das autoridades.
Nas últimas semanas, o Governo concedeu passaportes
a críticos como Yoani e dissidentes como a líder das Damas de Branco, Berta
Soler, mas não os autorizou para políticos que foram libertados nos últimos
anos e cujas penas seguem vigentes.
"Tenho alguns amigos que não poderão sair por
múltiplas razões: porque não lhes outorgaram o passaporte ou porque são
prisioneiros da 'Primavera Negra'. Também há outros que não têm os recursos
para viajar", destacou Yoani.
Em seu caso, a famosa blogueira se despedirá dos
anos de negativas com uma grande viagem que começará no Brasil, onde cumprirá
uma apertada agenda que inclui conferências sobre liberdade de expressão e
direitos humanos assim como a apresentação do documentário do cineasta Dado
Galvão "Conexão Cuba-Honduras".
Outros de seus destinos serão República Tcheca,
Alemanha, Suécia, Suíça, Itália e Espanha.
Yoani Sánchez também visitará México, Peru e
Estados Unidos, onde dará conferências em várias universidades e visitará as
sedes do Google e do Twitter.
Além de reivindicações pela normalização
migratória, outro pedido constante de Yoani Sánchez é por um acesso livre à
internet, cujo uso particular em Cuba está fortemente restrito.
Por isso um de seus desejos nesta viagem é
"navegar pela internet sem censura e sem ter de pagar US$ 6 por
hora".
"Sem que ninguém olhe sobre minhas costas para
saber em que site estou navegando", disse a blogueira, que é uma ativa
usuária do Twitter, que acessa através de um telefone celular.
Após
a flexibilização migratória, a blogueira lembrou que em Cuba ainda restam
muitas reformas pendentes, como a descriminalização da divergência, a liberdade
de expressão e associação ou a permissão para criar meios de comunicação livres
e independentes.
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