O ex-presidente Lula procurou o ministro do STF (Supremo Tribunal
Federal) Gilmar Mendes para tentar adiar o julgamento do mensalão.
Em troca da ajuda, Lula ofereceu ao ministro, segundo reportagem da
revista "Veja" publicada neste fim de semana, blindagem na CPI que
investiga as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos
Cachoeira, com políticos e empresários.
Sérgio Lima - 09.dez.2009/Folha Imagem
Então presidente, Lula conversa com o ministro do STF Gilmar Mendes em evento que aconteceu em 2009 em Brasília.
Mendes confirmou hoje (26) à Folha o encontro com Lula e o teor
da conversa revelada pela revista, mas não quis dar detalhes. "Fiquei
perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do
presidente Lula", afirmou o ministro.
O encontro aconteceu em 26 de abril no escritório de Nelson Jobim, ex-ministro do governo Lula e ex-integrante do Supremo.
Lula disse ao ministro, segundo a revista, que é "inconveniente" julgar o
processo agora e chegou a fazer referências a uma viagem a Berlim em
que Mendes se encontrou com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO),
hoje investigado por suas ligações com Cachoeira.
Membro do Ministério Público, Demóstenes era na época um dos principais
interlocutores do Poder Judiciário e de seus integrantes no Congresso
Nacional.
A assessoria de Lula disse que não iria comentar.
Na conversa, Gilmar ficou irritado com as insinuações de Lula e disse que ele poderia "ir fundo na CPI".
De acordo com a reportagem da "Veja", o próximo passo de Lula seria
procurar o presidente do STF, ministro Carlos Ayres Britto, também com o
intuito de adiar o julgamento do mensalão.
Em recente almoço no Palácio do Alvorada, na ocasião da instalação da
Comissão da Verdade, Lula convidou Ayres Britto para tomar um vinho com
ele e o amigo comum Celso Antonio Bandeira de Mello, um dos responsáveis
pela indicação do atual presidente do Supremo.
À Folha Britto também confirmou o convite, mas disse que não percebeu qualquer malícia em Lula e que o encontro não ocorreu.
"Estive com Lula umas quatro vezes nos últimos nove anos e ele sempre
fala de Bandeirinha. Ele nunca me pediu nada e não tenho motivos para
acreditar que havia malícia no convite", disse. Ele diz que a "luz
amarela" só acendeu quando Gilmar Mendes contou sobre o encontro, "mas
eu imediatamente apaguei, pois Lula sabe que eu não faria algo do tipo".
Na última sexta-feira (25), em Salvador, Ayres Britto disse que os
ministros do STF "estão vacinados contra todo tipo de pressão". "Ainda
está para aparecer alguém que ponha uma faca no pescoço dos ministros do
STF."
Esta gente perdeu o limite da sensatez, acredita que pode tudo e que os demais poderes constituídos são meras formalidades tolas. Este é o perigo dos que governam apenas com o apoio popular, com o poder de cooptar e com a retórica populista transmitida em forma de reiteradas metáforas imbecis.
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