Revista Época/Reprodução
A foto acima exibe Dilma Rousseff no frescor da juventude. Foi clicada em novembro de 1970, na sede da Auditoria Militar do Rio de Janeiro.
Presa pela ditadura, a então guerrilheira Dilma –ou Estela ou Vanda ou Luíza, seus codinomes na clandestinidade— tinha escassos 22 anos.
No momento em que a máquina fotográfica foi acionada, ela estava sendo interrogada. Repare num detalhe: os inquisidores escondem o rosto com a mão.
Deve-se a veiculação da imagem ao repórter Ricardo Amaral. Içou-a das páginas do processo contra Dilma na Justiça Militar. E acomodou-a num livro que chega às prateleiras no próximos dias.
Chama-se ‘A vida quer Coragem’. Foi impresso pela Editora Primeiro Plano. Contém uma reportagem de fôlego de Amaral. Relata os passos de Dilma da guerrilha até o Planalto.
A foto e trechos da obra foram publicados pela revista ‘Época’, um dos veículos para os quais Amaral já trabalhou.
Os pedaços do livro que tratam de 2010 trazem o relato de olhos que perscrutaram os subterrâneos da campanha petista.
Amaral foi assessor da Casa Civil da Presidência e também da campanha de Dilma.
Num dos trechos antecipados pela revista, o livro esmiuça passagem da sucessão presidencial em que o generalato do PT via no antagonista José Serra uma ameaça real.
Esse naco do texto vai abaixo, no português escorreito do autor:
A pesquisa Datafolha divulgada no primeiro domingo depois do primeiro turno mostrava Dilma com 54% dos votos válidos e Serra com 46% – ele herdava, segundo a pesquisa, mais da metade dos eleitores de Marina; e Dilma, apenas um quinto. [...] Quase todos no comando da campanha tinham passado pelo menos uma noite sem dormir, ou tendo pesadelos com a derrota. José Eduardo Dutra chegou a calcular o passo seguinte – renunciar à presidência do PT, como fazem os dirigentes dos partidos europeus quando perdem uma eleição.
As pesquisas internas mostravam que a situação era ainda pior: a vantagem de Dilma estava abaixo de cinco pontos, em queda constante, de acordo com os trackings da Vox Populi. Quem levou as más notícias aos coordenadores foi Chico Meira, o sócio de Marcos Coimbra na Vox. Ele chegou depois do almoço ao hotel em São Paulo onde Dilma se preparava para o primeiro debate do segundo turno, na TV Bandeirantes.
Queria falar com a candidata, mas parou na antessala onde estavam Dutra, Antonio Palocci, José Eduardo Cardozo e o marqueteiro João Santana. A situação era ainda pior, ele disse, porque os eleitores passaram a avaliar mal os atributos da candidata – ela tinha deixado de ser considerada a mais preparada, mais confiável, mais sincera. Ou seja: a tendência era continuar caindo. Chico Meira tinha lágrimas nos olhos quando concluiu:
– Nós perdemos esta eleição.
Palocci e Santana tinham uma boa memória das eleições de 2006. Eles se lembravam de movimento semelhante na avaliação dos atributos de Lula logo depois do primeiro turno. Para os dois, não se tratava de uma tendência, mas de uma reação passageira dos eleitores diante de um candidato favorito que não consegue liquidar a fatura na primeira rodada. Palocci apontou a porta ao analista de pesquisas:
– Volte pra casa imediatamente. Aconteceu a mesmíssima coisa com o Lula em 2006. Você não vai mostrar isso nem pra ela nem pra ninguém.
Dilma não viu os números, mas sabia perfeitamente que sua campanha precisava de um rumo claro, que a guerra santa só interessava ao adversário e que ela tinha de aproveitar o primeiro debate para marcar a retomada. [...] Dutra e Palocci conversaram com Dilma pouco depois de ver os números da Vox Populi e perceberam que ela estava disposta a sair das cordas no primeiro debate frente a frente com Serra. Foi antes de a candidata entrar na TPD, a tensão pré-debate habitual.
Palocci começou:
– Hoje você tem que mostrar que quer mesmo ganhar esta eleição.
Dutra reforçou:
– O jogo está na sua mão.
Dilma entendeu:
– Podem deixar, hoje vai ser diferente.
Escrito por Josias de Souza
O símbolo da covardia estampado no gesto dos interrogadores/inquiridores que cobriram seus rostos no momento da foto, com suas mãos sujas pela tortura. Não confiavam, sequer, nas fardas e nos coturnos que moviam seus corpos e suas mentes. Pra esta Dilma eu tiro meu chapéu, dedico meu respeito e exalto minha admiração. Não concordo, jamais, com torturas, perseguições e afins venha de quem vier, parta de quem partir. Os papéis hoje, em alguns casos se invertem!
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