Ronaldo Tocha

Nesses últimos dias, enquanto estivemos mobilizados, reavaliei toda a minha condição de agente de fiscalização. 

Confesso ter ficado absolutamente surpreso com nosso movimento. Até o início do mesmo, eu considerava que estávamos às cegas, repletos de temores, incertezas e dúvidas, pois não sabíamos o que enfrentar. O lado de lá é muito forte.

Basta lembrar que nos tiraram (ou brecaram) uma série de direitos, dentre os quais ascender na carreira. Entretanto, faço um “mea culpa”, porque estava eu circunscrito ao meu mundinho particular, absorto com meus problemas, envolvido em meu trabalho, anestesiado em minha rotina, constituindo uma “vidinha” monótona e repleta de reclamações.

Experimentei sensações - do lado profissional - há muito adormecidas. Vi e vivenciei situações absolutamente inusitadas, depois de anos de “janela”. Conheci outros fiscais. E outros fiscais me conheceram também.

Aquela concepção que havia até então - inclusive minha, confesso - de que não conseguíamos quórum sequer para fazer uma reunião, foi por água abaixo. Aliás, eles, do lado de lá, sempre contaram com isso. Seu maior temor, no entanto, era que (re) descobríssemos a nossa força. 

O individualismo deu lugar ao coletivo e à solidariedade.

Por ora, não sei e nem quero saber aonde isso vai chegar. O que importa é que me reafirmei como funcionário público, posso andar de cabeça (mais) erguida e daqui por diante verei nossa categoria com outros olhos.

O maior legado dessa greve não será aquilo que viermos a conquistar, mas esse espírito de corpo - “duzentas canetas” (®copyright by Claudinha Nucci, não esqueci não).

Tenho a certeza de que não serei o mesmo depois dessa “experiência” e que jamais vou deixar quem quer que seja tirar esse espírito de mim.

Agradeço a todo (a)s que de alguma forma colaboraram, com pequenos ou grandes gestos - não vou citar nomes, mas quando lerem isto, se lerem, vão saber quem são - o (a)s que fizeram as negociações, o(a)s que abriram canais de comunicação com a administração, o (a)s que doaram um pouco de seu fôlego soprando os apitos, o (a)s que doaram um pouco de seu tempo, o (a)s que puseram os narizes vermelhos, o (a)s que seguraram as faixas, o (a)s que deram opiniões e sugeriram algo, o (a)s que filmaram e fotografaram, o (a)s que deram espaço sob o seu guarda-chuva/sol aos colegas, os abrigando da chuva ou do sol escaldante, o (a)s que deram carona aos demais, o (a)s que “racharam” o combustível, o (a)s que pagaram ao parceiro a refeição do dia, o (a)s que fizeram a “correria” para conseguir carros de som e locais para que nos reuníssemos, o (a)s que recolhiam as assinaturas, o (a)s que copiavam e distribuíam os materiais à população, o (a)s que divulgaram informações pela internet e celular, o (a)s que almoçaram e beberam comigo, etc.

Estivemos juntos na maioria das vezes, defronte ao paço municipal, no bairro do “Bom Clima”. Não achei palavras mais apropriadas para definir essa sensação. Será coincidência ou obra do acaso? Não seria profético se nos reuníssemos na Vila União?

Pra encerrar toda essa “bagaça”, desejo que doravante, façamos jus ao nome do bairro, aplicando-o a nós mesmos. Então... que mantenhamos sempre, o Bom Clima e a união entre nós.

Agora chega, porque tá ficando piegas.

Vou sair pra beber umas pingas.

Amplexo.

Fui.