Fotos: Lula Marques, Marcelo Camargo e Sérgio Lima/Folha
O governador pernambucano Eduardo Campos e sua mãe, a deputada Ana Arraes, tornaram-se personagens de um enredo curioso. Envolve o uso de verbas públicas na locação de automóveis de uma empresa sediada na periferia de Brasília.
Chama-se BSB Locadora. Tem como sócia majoritária Renata Ferreira. Ela é filiada ao PSB, o mesmo partido de Ana, presidido pelo filho Eduardo. Em notícia veiculada nesta terça (27), os repórteres Fernando Mello e Filipe Coutinho contam o seguinte:
1. A BSB Locadora oferece como endereço uma sala situada em Samanbaia, um bairro pobre do Distrito Federal.
2. A sala está fechada. Olhando-se pela porta, de vidro, enxerga-se: uma mesa, um computador antigo, um telefone, colchões velhos e material para festas infantis.
3. Entre os clientes da locadora estão o escritório de representação de Pernambuco em Brasília e o gabinete parlamentar de Ana Arraes.
4. Juntos, o governador-filho e a deputada-mãe já destinaram à caixa registradora da BSB Locadora R$ 303 mil.
5. Desse total, R$ 210 mil foram providos pelo governo de Eduardo. Outros R$ 93 mil foram pendurados por Ana nas arcas da Câmara.
6. Renata, a sócia da locadora, filiou-se ao PSB em outubro de 2009. Uma semana antes, venceu licitação para fornecer automóveis ao escritório de Pernambuco.
7. O pai de Renata, Esmerino Ferreira, trabalha no gabinete de Ana Arraes desde 2007. Antes, fora motorista de Eduardo entre 1998 e 2006, quando ele era deputado.
8. Além de sócia da locadora, Renata é servidora terceirizada do Ministério da Ciência e Tecnologia. Pasta que, sob Lula, era da cota do PSB e teve Eduardo como ministro.
9. O aparelho de fax instalado na casa de Renata não traz no cabeçalho o nome dela ou de sua empresa. Anota: “Deputado Eduardo Campos”.
10. A locadora foi fundada em 21 de julho de 2008. Nessa época, não dispunha de veículos. Um dos sócios de Renata diz que a empresa locava carros da família.
11. No ano seguinte, a BSB Locadora foi aquinhoada com o contrato que a ligou ao escritório de representação de Pernambuco na Capital.
12. Desde então, a empresa incluiu no seu rol clientes o diretório nacional do PSB e outros deputados federais.
13. Somando-se tudo o que já recebeu em verbas públicas, chega-se à cifra de R$ 540 mil. Agora, a firma já possui cinco carros em seu nome. Patrimônio de R$ 275 mil.
14. Considerando-se a clientela, a frota revela-se insuficiente. Ao governo de Pernambuco, a empresa diz fornecer três veículos.
15. Precisaria de mais quatro carros para atender aos deputados que dizem pagar para dispor de um carro cada um.
16. Além de Ana, são clientes da BSB: Carlos Eduardo Cadoca (PSC-PE), Keiko Ota (PSB-SP) e Gastão Vieira (PMDB-MA), que acaba de ser nomeado ministro do Turismo.
17. Procurado, o governador Eduardo manifestou-se por meio de nota. Disse que o contrato com a BSB Locadora foi precedido de licitação.
18. Negou que o vínculo da proprietária com o PSB tenha influído na contratação. Negou também que a tenha indicado para trabalhar na pasta da Ciência e Tecnologia.
19. Quanto ao fax que expede mensagens com seu nome no cabeçalho, Eduardo alegou que presenteou Esmerino, o pai de Renata, com um aparelho particular. Atribui a “mero esquecimento” o fato de seu nome ainda constar das mensagens enviadas a partir da máquina que presenteou.
20. Ouvida, Ana Arraes alegou que a locadora foi contratada porque ofereceu o menor preço. Ela não vê relevância no fato de a sócia da empresa ser filha de Esmerino, funcionário de seu gabinete e ex-motorista do filho Eduardo.
21. "O que importa, o que é relevante”, diz a deputada, “é que a empresa tenha condições de manter o objeto do contrato." Renata jura que tem condições. Quando necessário, diz ela, sua locadora opera com carros “terceirizados”.
22. Ana e os outros deputados que penduram notas da locadora na contabilidade da Câmara afirmam que as despesas foram atestadas pela Casa.
23. Esse caso de contornos esquisitos chega às manchetes uma semana depois de Ana Arraes ter sido indicada pela Câmara para ocupar uma poltrona de ministra do TCU.
24. Guindada ao posto graças sobretudo à credencial de mãe de Eduardo, seu principal articulador, Ana terá entre suas novas atribuições a tarefa de fiscalizar o uso de verbas públicas.
Escrito por Josias de Souza
Perderam-se todos os parâmetros de moralidade, seriedade, honestidade, enfim, valores que deveriam nortear os seres humanos. Pessoas que posam de sérias, muitas vezes empunhando bandeiras e sobrenomes importantes nas lutas que outrora foram travadas contra regimes tidos antidemocráticos, se enlameiam, usam de todas as formas e desonestidades para se apropriarem ou de alguma forma se locupletarem do dinheiro público e, na maior cara de pau afirmam que não há ilegalidade nestes atos. È um absurdo sem limites e inadmissível.
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