RUY FABIANO Redação Jornal da Comunidade.
Numa das mais conhecidas histórias bíblicas, a de Sansão, o herói, para vencer o adversário opressor, dispõe-se ao próprio sacrifício. Derruba as colunas do templo, a que estava acorrentado, e sucumbe com os inimigos. Morre pela justiça.
Em política, o autossacrifício não é raro, mas tem motivações menos nobres. Em regra, é impulsionado por vingança ou chantagem – ou por ambas.
Roberto Jefferson, quando denunciou o mensalão, em 2005, foi movido por vingança. Sentiu-se sentenciado por José Dirceu e pelo PT, aos quais atribuía matérias jornalísticas desfavoráveis, e decidiu, no desespero, derrubar as colunas do templo.
Deu uma entrevista-bomba com a qual deflagrou o escândalo, de que era parte. No próprio ato da vingança, que o levou à cassação, negociou a preservação de Lula, temperando vingança com chantagem. Insinuou que o presidente sabia de tudo e, ao final, sustentou que não, era vítima de maus assessores.
Cassado, passou a dizer que Lula sabia sim, e tudo comandava. Era tarde. Lula ficou fora do mensalão, que, seis anos depois, ainda aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal.
Eis que agora fato semelhante volta a ocorrer, em âmbito mais estrito. O deputado estadual de São Paulo, Roque Barbieri (PTB), veio a público denunciar um esquema de colegas que vendiam emendas ao Orçamento. Não deu nomes, mas prometeu dá-los, provocando imenso alvoroço.
Disse que confirmaria as denúncias ao Conselho de Ética da Assembleia e ao Ministério Público. Não era pouca coisa, o que denunciara; daí a expectativa criada.
Segundo ele, empreiteiras compravam dos deputados as emendas parlamentares ao orçamento e as ofereciam aos prefeitos do interior. Disse mais: que 30% dos colegas estavam envolvidos.
Apertado pela imprensa, pelo Ministério Público e, sobretudo, pelos colegas, que o ameaçaram com um processo de cassação, caso não desse nome aos bois, começou a desconversar.
Disse que foi mal-interpretado e jogou a culpa na imprensa. Em depoimento ao Conselho de Ética da Assembleia, admitiu que exagerou em alguns detalhes, e que “a grande maioria dos deputados é gente boa”. Só não esclareceu se ele próprio integra essa “grande maioria” ou se é parte da minoria nefasta.
Diante do inusitado da situação, não há despropósito em concluir que o deputado pretendia chantagear alguns colegas, dentro daquele conceito de negociata resumido com maestria pelo Barão de Itararé: “um bom negócio para o qual não fomos convidados”. Barbieri parece ter ficado de fora – e, em vez de simplesmente se vingar, denunciando os colegas ingratos, contentou-se em chantageá-los.
É uma pena. Sempre que maus políticos se desentendem, quem ganha é o contribuinte. É quando verdades desprimorosas vêm à tona. Os comandantes do mensalão prestaram, sem saber, um grande serviço ao país, ao rifar o deputado Roberto Jefferson.
Sem aquela rasteira, talvez ainda hoje se desconhecesse o medonho esquema de perversão de um poder (no caso, o Legislativo) por outro (o Executivo), fato de proporções inéditas mesmo numa história impura como a da política brasileira.
É verdade que não gerou ainda consequências punitivas à altura, mas serviu para mostrar que o véu de castidade que o PT exibiu por tantos anos fora do poder já havia sido rasgado. Que mais sansões profanos apareçam. Têm sido os instrumentos involuntários da quebra da impunidade.
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