Blog "O CABORÉ" Caicó/RN
por ORLANDO RODRIGUES - O caboré.
Tudo é uma zorra em Boi Selado.
A começar pelos festejos profanos e religiosos oficializados por um padre estressado, que não chega a ser um PMD, mas faz parede com os limites da piração.
Também pudera, acompanhando a procissão da padroeira Nossa Virgem dos Prisiacas, fiéis de todos os tipos e para todos os doidos: Comunista, como o Severino, Pecadora, como Joaninha, Doido, como Ciço, e várias Salvinas, como a própria Maria, mãe de muitas Marias, psicóticas como ela.
Severino, o Comunista, da Ordem dos Marianos e do Coração de Jota Cristo, como fervoroso e contrito seguidor da procissão, leva a Cruz do Senhor encostada no peito e segura pelas as duas mãos.
O repórter fotográfico Trois Oreils tenta clicá-lo de um anglo melhor e o chama pelo apelido:
- Dá uma olhadinha pra mim, Comunista!
Severino não se faz de rogado:
- Comunista é a mãe, seu fresco e fela da puta!
Mais adiante, um vira lata irrompe no cortejo religioso e se entramela nas pernas dele, Severino dá um pulo de lado e o ameaça empunhando a cruz de Cristo:
- Vai pro inferno, cão sem dono, senão eu dano-lhe o diabo!
Nisso, aparece Ciço Doido, com as mãos cheias de xexos de pedra e investe contra Severino:
- Esse cachorro é meu e ninguém tasca nele, seu Comunista, corno e filho de corno com quenga!
A intervenção de Chica Piolho é providencial:
- Respeitem a presença de nossa mãe celestial, bando de frescos e amancebados!
Joaninha Pecadora e Maria Salvina, das mais devotas do lugar, pagam geral:
- Que cabaré é esse que vocês estão fazendo, suas despudoradas. Vão arranjar homens da peia grande pra vocês treparem!
Diante de tanto baixaria, a multidão vira para trás para ver o que está acontecendo e entra na igreja com a estátua da Virgem também de costas para o altar. O vigário quase dá um piripaco, e, incréduto, grita:
- Vira a santa pra cá!
Os fiéis, já atordoados com tantas blasfêmias ouvidas na procissão, gritam:
— Viva!
O vigário repete, fulo da vida:
- Virem a santa pra cá!
Os fiéis permanecem com o andor virado pra rua, gritam mais alto e bom som:
- Viiiiivaaaa!
O pregador, já bufando de raiva, vai às raias da loucura:
- Não é viva, não, seus cornos. Eu estou pedindo pra vocês virarem a porra dessa santa pra cá, porque ela está de costas para o altar! Entenderam agora, magote de frescos?
Enfim, os festejos religiosos são concluídos, mas os profanos prosseguem até a manhã do dia seguinte. Os vários meios de transportes que ligam o resto do mundo a Boi Selado já estão a postos para o caminho de volta aos seus respectivos lugares.
De manhazinha, a locutora da difusora local reinicia as suas atividades radiofônicas, com vários avisos. O primeiro deles, emergencial:
- Atenção, muita atenção minha gente. Vocês que vieram para os festejos de nossa padroeira, se vexem, porque o ônibus para Natal, já está num pé e outro para zarpar!
A locutora faz uma pausa, ler alguns comerciais, como esse: “se você está construindo ou vai construir sua casinha, Drobão tem a madeira certa para os seus vãos”.
Depois, retoma com muita ênfase:
- Temos agora um aviso, meio triste, mas de final feliz: Atenção Dantinha, no sítio Saco, neste município. Joaquim avisa que sua mão SE SUICIDOU-SE, mas não chegou a morrer, e que a mesma viaja no primeiro transporte!
A moçoila prossegue. Outro aviso também triste, mas nem tanto:
- Atenção, GARROTE perdido. Procura-se um garrote, de 08 anos de idade, trajando calça curta azul marinho, camisa fio Helanca vermelha, calçando congas azul e cabelo busca-pé. Por favor, quem o encontrar, favor entregá-lo em sua residência, à rua doutor Sidney Lopes, sem número, que será bem gratificado.
Retificando: onde se lê GARROTE, não é GARROTE, é GAROTO!
Enfim, a festa acaba, Boi Selado retoma ao normal, a vida da população segue tocada sem novidade. É esperar mais alguns dias, para a população curar a ressaca e os agitos habituais da época.
Porém, quando recomeça, é pra valer. Um lugar de muitos personagens históricos, folclóricos, fanfarrões, protagonistas de muitos casos e causos. João Xoa é um deles, e todo mundo está lembrado de vários, como esse:
Xoa tem um cachorro de raça, pastor alemão, portanto, muito valente e considerado na vizinhança. Porém, o bicho este com um problema de saúde: constirpação. Mas, Xoa lembra de uma caso mais grave ainda acontecido com um animal do mesmo porte que também chegou à farmácia veterinária de Carnaúba, Rua Grande.
- O remédio é um pôster gigante, a cores, de uma onça pintada, gigante. A gente nem entra na farmácia, porque é proibida. Carnauba é só mostrar o retratão que o cachorro se caga todinho de medo.
Um parente de Xoa, de nome Januário, já passou dos 50 sem jamais ir ao médico para fazer o exame de próstata. Medo. Mas, como estava sentindo algo estranho do boga pra dentro, foi!
Deitou-se na cama, o doutor empurrou-lhe o dedo na regada, mas com muito cuidado. Mesmo assim, Januário sentiu uma dor terrível, pula da cama, veste a roupa e desabafa:
“Doutô, que dedada infeliz, essa, home. Doeu no coco da cabeça e rodou o meu juízo. Portanto, negócio encerrado.”
O proctologista:
- Desculpe, amigo, eu o fiz com muito cuidado. Mas, volte, aqui, vou passar alguns exames, porque, seu ânus doeu, é sinal que tem alguma coisa anormal.
Vamos, primeiro, fazer seu prontuário. Como é seu nome mesmo?
O paciente:
- Janú!
O médico:
- Mas, não era Januário?
- Era, sim, doutor. Mas, quando o senhor enfiou o dedão dentro do meu rabo, o ARO foi com ele…
O acontecido lembra o episódio do cambista Cavalo 13 com um apostador de jogo de bicho.
- Seu cambista. Eu sonhei um jumento me comendo. Eu jogo o que?
- Jogue o cú fora, que ele afolozou e não serve mais pra nada!
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