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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

General é afastado após criticar comissão da verdade.

Certos silêncios, por eloquentes, ajudam os tímpanos a prestar atenção nos ruídos que soam ao redor. Assim foi com a Comissão da Verdade, criada pelo governo para escarafunchar as violações aos direitos humanos na era militar. Em meio ao barulho, as Forças Armadas reagiram com o silêncio. Um silêncio bem alto, ensurdecedor. Súbito, um general decidiu levantar a voz. Chama-se Maynard Marques de Santa Rosa. Não é um general qualquer. Chefe do Departamento de Pessoal do Exército. Membro do Alto Comando. O general falou sem mover os lábios. Gritou por escrito. O trombone de suas palavras trouxe ao centro do palco o som do silêncio de seus pares. Movido por ira santa, o general Santa Rosa mostrou da rosa o espinho. Anotou que os integrantes da comissão são os "mesmos fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o sequestro de inocentes e o assalto a bancos como meio de combate ao regime, para alcançar o poder". Acrescentou: “Confiar a fanáticos a busca da verdade é o mesmo que entregar o galinheiro aos cuidados da raposa...” “...A história da inquisição espanhola espelha o perigo do poder concedido a fanáticos...” “...Quando os sicários de Tomás de Torquemada [1420-1498] viram-se livres para investigar a vida alheia, a sanha persecutória conseguiu flagelar 30 mil vítimas por ano". Levados às páginas pela repórter Eliane Cantanhêde, os espinhos do general espetaram o coração do Planalto. A criação da comissão fora referendada por Dilma Rousseff. Na definição do general, uma fanática que, no passado recente, adotou o terrorismo e todo o etc. Ouvido, o comando do Exército dissera, na véspera, que o texto do general não passava de uma “carta a um amigo”. Coisa que não traduzia o pensamento do Exército. Lorota. Santa Rosa apenas traduziu o pensamento do silêncio. Pois bem, com a rapidez de um relâmpago, o ministro Nelson Jobim (Defesa) tratou de levar a cabeça de Santa Rosa à bandeja. Enviou a Lula o pedido de afastamento do (in)subordinado. Em nota, a pasta da Defesa não deixou dúvidas quanto à motivação do escalpo. A Comissão da Verdade é parte do Plano Nacional dos Direitos Humanos. Um plano que traz a assinatura de Lula. Reza a Constituição que o presidente é comandante em chefe das Forças Armadas. Portanto... Defenestrado, o general fica à disposição do Departamento de Pessoal, que chefiava. Logo, logo será lotado numa geladeira do Exército. Os militares foram devolvidos ao seu silêncio. Aguçando-se os tímpanos, pode-se ouvir, porém, os ruídos que continuam soando ao redor. Por sorte, o barulho ecoa num Brasil bem diferente daquele de outrora. Escrito por Josias de Souza às 19h29

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