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sábado, 21 de abril de 2012

Justiça manda USP devolver R$ 1 mi doado por família de banqueiro.

Folha.com
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

Zanone Fraissat/Folhapress
Auditório que deixou de levar o nome do banqueiro Pedro Conde após família dele fazer doação de R$ 1 milhão
Auditório que deixou de levar o nome do banqueiro Pedro Conde após família dele fazer doação de R$ 1 milhão.

A Justiça paulista determinou que a USP devolva o R$ 1 milhão que a família do banqueiro Pedro Conde (1922-2003) doou à Faculdade de Direito do largo São Francisco.

O dinheiro foi usado para reformas feitas na escola.

O pedido de devolução foi feito pela própria família, após a faculdade barrar as homenagens pela doação.

O auditório da faculdade reformado com o dinheiro da doação chegou a ser batizado com o nome do banqueiro. Estava ainda prevista a instalação na escola de um quadro com o retrato de Pedro Conde.

A família alega que as homenagens eram uma contrapartida obrigatória à doação.

Os recursos bancaram também a reforma de banheiros.

A doação foi feita em 2009, quando o atual reitor da USP, João Grandino Rodas, era diretor da faculdade. A doação foi aprovada pela congregação (órgão que representa todos os segmentos da escola).

Um ano depois, com uma nova direção na faculdade e sob pressão de estudantes, o órgão recuou, alegando que não sabia da obrigação de "batismo" do auditório.

Segundo o juiz Jayme Martins de Oliveira Neto, os doadores não foram informados que a homenagem dependia do aval da congregação.

"Toda essa dinâmica revela indisfarçável descumprimento do encargo [compromisso]" da universidade, escreveu o juiz na sentença.

A família pediu também indenização por danos morais, mas o juiz rejeitou o pedido.

O processo causou debate sobre o uso de doações privadas na instituição pública.

Uma ala diz que a iniciativa é interessante para modernizá-la. Outra entende que o interesse privado pode passar a direcionar atividades de ensino e pesquisa.

O risco de influência privada na universidade, sem regras previamente discutidas, foi um dos argumentos utilizados por alunos da São Francisco para criticar o batismo do auditório da faculdade.

A USP informou ontem que recorrerá. Segundo a assessoria da reitoria, a faculdade havia se comprometido apenas a apresentar à congregação a proposta de batismo do auditório, o que foi feito.

Não havia, disse a assessoria, obrigação de nomear a sala com o nome do banqueiro.

O atual diretor da faculdade, Antonio Magalhães Gomes Filho, não quis falar.

Ano passado, quando a família do banqueiro entrou na Justiça, ele disse: "acho as doações importantes, porque a escola não tem recursos para a modernização necessária. Mas isso tem de ser feito dentro de um regramento".

A divergência no caso foi um dos motivos para troca de críticas recente entre o reitor e a faculdade.



USP na vanguarda do atraso.


Esse episódio da doação de dinheiro à Faculdade de Direito da USP mostra como setores acadêmicos vivem na vanguarda do atraso --e como, no final, quem sai perdendo é a educação.

Um banqueiro deu dinheiro para reformar um auditório da faculdade, pedindo em troca uma placa com seu nome. É exatamente assim que algumas das melhores universidades do mundo ganham doações e fazem extraordinárias pesquisas.

Existe aqui uma questão de ego? Existe. Mas quem sai ganhando no final com esse exercício de ego? Muitas cátedras nos EUA têm o nome do doador. Nem por isso (pelo contrário) o ensino é prejudicado. Lá, é onde mais se produz inovação no planeta.

Se o banqueiro quiser doar para Harvard, MIT ou Stanford esse mesmo valor, certamente terá uma contrapartida. Todos ficariam felizes.

No Brasil, é mais fácil pedir mais dinheiro ao contribuinte do que buscar formas de financiamento na sociedade. Perverso é que, nas universidades públicas, os mais ricos são maioria. E os mais pobres é que vão para faculdades privadas.

Dito isso, a família do banqueiro Pedro Conde, montado nos seus milhões, pode até ter razão legal para pegar o dinheiro de volta (como está pegando). Mas também poderia demonstrar um mínimo de generosidade e deixar a doação lá, mesmo sem placa.

Um comentário:

  1. Posso até concordar com o caro Gilberto Dimenstein, no entanto há que se substituir o termo doação para compra de espaço publicitário ou coisa do gênero. Não consigo conciliar doação com imposição de contrapartida, no meu modesto entendimento perde a essência do ato.

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