Mauricio Vicent
Cubanos passam por cartaz com a imagem de Fidel Castro, em Havana (Cuba). A capital do país passa por sérios problemas de infraestrutura e dá sinais de enfraquecimento da revolução Em Havana (Cuba)
Pedestres cubanos caminham ao lado de automóveis da frota pré-revolucionária cubana sob cartaz contra a "agressão" americana em Havana; embargo foi resposta a nacionalizações, em 1962. Agora, a ilha socialista enfrenta problemas sérios de desenvolvimento urbano e social
Em 8 de janeiro passado, os viajantes que utilizaram o terminal 3 do Aeroporto Internacional de Havana ficaram perplexos ao ver as imagens que o sistema fechado de televisão mostrava. Junto com concertos de música "salsa", propaganda turística, danças no Tropicana e imagens de arquivo da revolução, o canal dedicava espaços importantes a anunciar as vantagens da companhia Air Comet, líder em preços e em comodidade em suas rotas, segundo o comercial.
A empresa, em concordata há semanas, deixou em terra centenas de passageiros em Cuba e provocou quase um motim no consulado espanhol, mas ninguém no aeroporto se incomodou em retirar os anúncios da companhia. "Para as pessoas dá na mesma oito ou 80: ninguém está motivado a fazer as coisas direito", resumiu um funcionário. E disse mais: "A verdade é que infelizmente em Cuba já perdemos até o hábito de trabalhar".
A anedota é mais um exemplo dos males da Cuba socialista. Se é assim no aeroporto, onde os empregados têm possibilidade de desviar recursos e receber propinas em divisas, é fácil imaginar o que acontece em outros setores.
A magnitude da negligência e do desastre, agravada pela escassez de recursos e ainda mais pela falta de estímulos, é evidente. E aparece inclusive em reportagens recém-publicadas na imprensa oficial sobre o estado de algumas infra-estruturas e setores produtivos.
"Com água no pescoço?", é o título de uma reveladora página dupla do jornal "Granma" de 9 de janeiro, sobre a lamentável situação da rede hidráulica do país. "Mais da metade da água bombeada não chega ao destino previsto" devido ao mau estado das redes de distribuição, informa o jornal, denunciando que apesar da crise a ilha "gasta o dobro da água necessária".
Segundo o Instituto Nacional de Recursos Hidráulicos (INRH), este ano foram reparados uma média mensal de 18 mil vazamentos, a maioria deles conseqüência da deterioração do sistema de aquedutos, que tem entre 50 e cem anos e que não recebeu uma manutenção integral no último meio século. Durante anos as autoridades tentaram eliminar os vazamentos "de modo pontual", mas essa, confessa o "Granma", "não é uma solução sustentável".
"Ao tratar um vazamento em uma linha de encanamentos, ele simplesmente se desloca. Reparado o primeiro vazamento, o nível de deterioração levará a que, em qualquer trecho na continuação, surja um novo", explica-se. "É a história que nunca acaba", admite Javier Toledo, alto funcionário do INRH. O plano "estratégico" do governo de Raúl Castro se baseia na "reabilitação das redes de aquedutos" nos próximos dez a 15 anos. Excesso de otimismo, na opinião de muitos...
Há poucas semanas a imprensa publicou outro relatório não menos cru: 75% das vias pavimentadas de Cuba estão em estado "entre regular e ruim". Em outras palavras, os 29.600 km que somam as rodovias e estradas cubanas estão coalhados de buracos. Quanto às ferrovias, 94% estão deterioradas, como a maioria das locomotivas e 40% dos vagões. Assim como com a água, não se vêem soluções em curto prazo: para consertar as estradas seriam precisos 19 milhões de toneladas de asfalto; mas hoje Cuba produz anualmente só 1 milhão.
Deixemos de lado os serviços. Um produto tão cubano quanto o coco também passeia hoje à beira do precipício. Na localidade oriental de Baracoa, onde são colhidos 85% desse produto, as cifras dão medo: este ano a produção foi 80% menor que a de 1990, e isso que as fábricas cubanas demandam por ano mais de 5 mil toneladas de óleo de coco para elaborar produtos cosméticos. Baracoa produziu em 2008 só 403 toneladas desse óleo, e o preço da tonelada no mercado internacional beira os US$ 500. O jornal "Juventud Rebelde" admite que na base desse desastre produtivo estão os baixos preços que as empresas estatais pagam para os plantadores de coco. Adivinha-se por que a Air Comet continua voando em Cuba.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Meus diletos amigos socialistas vão querer me matar, mais vou ter que repetir a frase; de mau gosto ou não dos adversários da ditadura do Fidel:
ResponderExcluir“O Barack Obama vai destruir o único marco da democracia em Cuba, a prisão de Guantânamo, quem está la dentro tem alguma esperança de alcançar a liberdade, quem está fora dela em Cuba, não tem nenhuma.”