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Em São Paulo
A advogada Mércia Nakashima, morta em 23 de maio de 2010
A morte da advogada Mércia Nakashima completa um ano nesta segunda-feira (23), com os dois acusados pelo crime, o advogado e policial reformado Mizael Bispo de Souza e o vigia Evandro Bezerra da Silva, fora da cadeia. Os dois tiveram a prisão preventiva decretada em dezembro de 2010, mas permanecem foragidos.
Desde que a prisão foi decretada, a defesa de Mizael entrou com três habeas corpus, com pedido de liminar, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas todos foram indeferidos --destes, dois ainda aguardam o julgamento do mérito (em definitivo). Samir Haddad Junior, advogado do acusado, diz que seu cliente só irá se entregar se for condenado em definitivo, ou seja, quando não houver mais possibilidades de recurso. “Ele é advogado. A repercussão da prisão seria fatal. Arruinaria para sempre a carreira dele”, diz.
Um dos habeas corpus solicita que o crime seja julgado na comarca de Nazaré Paulista, onde o corpo de Mércia foi encontrado, e não em Guarulhos, onde foi julgado até agora. Caso o STJ decida favoravelmente ao pedido, o julgamento volta ao zero. Esse é o temor dos familiares da advogada.
“O nosso maior obstáculo é a Justiça. É um excesso de recursos, para ver se ele vai responder em liberdade, se o crime vai ser julgado em Nazaré... A legislação brasileira dá muito direito ao criminoso”, afirma Márcio Nakashima, irmão da vítima. Além das críticas ao Judiciário, Márcio avalia que a Polícia Civil não tem condições materiais para localizar Mizael. “A divisão de capturas da polícia tem 40 policiais para cumprir 152 mil mandados de prisão. É impossível encontrá-lo assim”, diz.
Rotina da família
Segundo Márcio, a rotina dos Nakashima não mudou muito desde a morte de Márcia. “Está tudo do mesmo jeito. É triste. Minha mãe chora todos os dias. É uma correria para levar os familiares ao médico, com problema de pressão... É muita dor, e, ao mesmo tempo, muita revolta por uma pessoa tirar a vida de um familiar e continuar livre”, afirma.
No dia 23 de janeiro deste ano, Márcio se envolveu em um acidente na estrada de Nazaré Paulista, enquanto viajava com a mãe, Janete Nakashima, entre Bom Jesus dos Perdões e Guarulhos (ambas em São Paulo). O carro dirigido por Márcio caiu numa ribanceira, provocando ferimentos em ambos. À polícia, ele afirmou que perdeu a direção após ver que um homem na garupa de uma moto que o seguia teria sacado uma arma.
Ficha de Mizael Bispo de Souza na página de procurados da Polícia Civil de São Paulo
Evandro Bezerra da Silva, acusado de ser o comparsa de Mizael
Os Nakashimas acreditam na hipótese de que pessoas ligadas a Mizael estariam planejando um atentado contra os parentes de Mércia ou ao menos tentando ameaçar a família. Márcio diz que desde o acidente recebeu pelo menos três ameaças por telefone. “A pessoa liga, grita, xinga e diz que eu estou cometendo uma injustiça contra Mizael, que é para deixá-lo em paz. É sempre um número desconhecido, de orelhão. Levamos tudo isso à polícia, mas não dá em nada. Eles me respondem que eu me expus muito”, afirma.
Mizael escondido
O advogado de Mizael diz que seu cliente está escondido, provavelmente na região de Guarulhos. “O termo correto é fugido. Seria foragido se ele já tivesse sido condenado. Agora, eu não sei onde ele está e mesmo que soubesse não falaria. Eu acredito que ele esteja perto, até porque minha orientação é que ele fique na comarca [de Guarulhos]."
A última vez que os dois teriam se comunicado foi entre o final de abril e o início de maio deste ano, segundo Haddad. “Ele está enterrado vivo. Não pode sair, transitar em público... Ele reclama até que não consegue sequer cortar o cabelo. Mas a gente evita falar nessas coisas para que a polícia não o rastreie”, diz.
Questionado pela reportagem, o advogado afirmou que realmente crê na inocência de seu cliente. “Eu já disse para ele: ‘o advogado sempre tem dúvidas, mas no seu caso você apresenta argumentos que me convencem’. Agora, 100% de certeza não dá para ter. Só Deus vê tudo”, afirma Haddad.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para saber como estão sendo feitas as buscas por Mizael e Evandro, mas o órgão não respondeu ao questionamento.
Entenda o caso
Depois de desaparecer em 23 de maio do ano passado da casa dos avós em Guarulhos (Grande São Paulo), Mércia foi achada morta em 11 de junho na represa em Nazaré Paulista. O veículo onde ela estava havia sido localizado submerso um dia antes. Segundo a perícia, a advogada foi agredida, baleada, desmaiou e morreu afogada dentro do próprio carro no mesmo dia em que sumiu. Ela não sabia nadar.
Para o Ministério Público, Mizael matou a ex-namorada por ciúmes e o vigilante o ajudou na fuga. Evandro, que chegou a acusar o comparsa e dizer que o ajudou a fugir, recuou e falou que mentiu e confessou um crime do qual não participou porque terua sido torturado.
Mizael é acusado de homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima) e ocultação de cadáver. Segundo o Ministério Público, ele matou a advogada por ciúmes, já que não aceitava o fim do relacionamento.
Já o vigia Evandro teria ajudado o advogado a cometer o assassinato. Ele responde pelos crimes de homicídio duplamente qualificado (emprego de meio insidioso ou cruel e mediante recurso que tornou impossível a defesa da vítima) e ocultação de cadáver.
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