Por dentro do mundo dos negócios, Antônio Ermírio de Moraes certa vez definiu a política assim:
“É a arte de pedir votos aos pobres, pedir recursos financeiros aos ricos e mentir para ambos depois”.
Ao lançar o seu “novo” partido, em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab, ‘ex-demo’, subverteu a ordem do enunciado de Ermírio.
Dono de uma legenda por estruturar, Kassab ainda não teve a oportunidade de pedir votos para o PSD.
Tomado pela desenvoltura com que corre o país, o prefeito tampouco parece preocupado com as finanças. Os recursos brotam ao redor.
Assim, Kassab inicia sua nova empreitada política pelo fim: a mentira. Há 24 horas, dissera, na Bahia, que o PSD seria uma legenda “independente”.
Nesta segunda (21), declarou que o partido fará “oposição responsável” ao governo Dilma Rousseff.
Ao discursar para uma platéia de cerca 100 pessoas, Kassab assegurou que sua agremiação não integrará o condomínio partidário que apóia Dilma.
Negou também que vá fazer oposição ao governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB):
"Aqui em São Paulo, fomos aliados ontem e continuaremos aliados. Esse compromisso é indestrutível".
Guilherme Afif Domingos, o vice de Alckmin que migra do DEM para o PSD, ecoou Kassab:
"O meu atrito não é com o PSDB, mas com o DEM. O governador está a par de tudo".
Kassab também declarou que não cogita fundir a nova legenda com o governista PSB ou com o PMDB do vice-presidente Michel Temer.
Ao menos até 2012, as duas legendas vão operar apartadas: "Não faremos fusão. Fomos convidados por duas legendas, o PMDB e o PSB...”
“...E definimos, nas últimas semanas, que o partido caminhará com nossas próprias pernas nas eleições municipais do ano que vem".
Espremendo-se tudo o que foi dito, obtem-se o sumo da pantomima.
Kassab deixa o DEM com o deliberado propósito de achegar-se a Dilma. Independência? Oposição responsável? Tudo conversa fiada.
Em São Paulo, o objetivo de Kassab não é senão o de disputar o governo em 2014. Opera para apear Alckmin, potencial candidato à reeleição, da cadeira de governador. Manutenção da aliança? Lorota.
Kassab refreou o plano de fundior o PSD ao PSB do governador pernambucano Eduardo Campos por necessidade, não por convicção.
A fusão instantânea iria à Justiça Eleitoral como deslavada fraude. Melhor esticar a o faz-de-conta até depois da eleição municipal de 2012.
No instante em que tiver de pedir votos aos pobres, retomando o exercício da política na ordem preconizada por Ermírio, Kassab terá alguma dificuldade.
O Datafolha acaba de traduzir em números algo de que já se suspeitava: a popularidade de Kassab definha.
Em quatro meses, caiu 8 pontos percentuais (de 37% para 29%) o índice de aprovação da gestão de Kassab na prefeitura.
Os paulistanos que avaliam a administração Kassab como regular passaram de 30% para 27%.
Saltou de 31% para 43% a soma dos que o classificam como um prefeito ruim ou péssimo. É a mais vistosa taxa de reprovação desde a posse de Kassab, em 2006.
"A nossa motivação é, até o último dia da gestão, continuar fazendo um bom trabalho, atendendo às nossas metas", disse Kassab.
Beleza. Quando lhe cair a ficha, Kassab talvez volte a atribuir à gestão da prefeitura a prioridade que passou a dispensar à constituição do novo partido.
Escrito por Josias de Souza
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