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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Alguém precisa propor controle social de José Dirceu.

José Dirceu foi agraciado com o prêmio ‘Democracia e Liberdade Sempre’. Coisa oferecida pela CUT.

 
Animado com a homenagem da central companheira, Dirceu falou aos repórteres sobre dois temas que lhe são compulsórios:

1. O descontrole que desaguou no mensalão.

2. O controle da mídia que expôs a quadrilha.

Sobre o primeiro tema, Dirceu repisou algo que dissera dias atrás, na saída de um café da manhã com Lula.

Repetiu que, depois de desencarnar, Lula dedicará parte de seu tempo à desmontagem da “farsa do mensalão”.

Sobre o segundo assunto, Dirceu reenrolou-se na bandeira da “regulação da mídia”. Defende a criação de um órgão regulador.

No poder, convertido por Lula em “capitão do time”, Dirceu revelou-se um esquerdista flexível.

Na clandestinidade, lutara contra a ditadura. Na oposição pós-redemocratização, brigara para expor as contradições do sistema.

Na chefia da Casa Civil, pôs-se a atacar o que defendia e a defender o que atacava. Quem o viu de fora não o entendeu.

A Procuradoria-Geral da República, por exemplo, não compreendeu o heroísmo do combate travado por dentro.

Valendo-se dos melhores estratagemas (meios) para atingir os piores subterfúgios (fins), Dirceu forçou o sistema a entregar tudo.

Para si, o ordenado da Viúva, boa casa, carro oficial e o usufruto do poder. Para os seus, o beijo na boca de Marcos Valério e o acesso à mala.

Agora, à espera do julgamento do STF, Dirceu festeja a adesão de Lula à tese de que é preciso reagir à história escrita pelos “reacionários”.

Lula já andou ensaiando a desqualificação da “farsa”. Ontem, declarava-se “traído” por Dirceu e Cia.. Hoje, diz que o mensalão foi uma tentativa de “golpe”.

Não colou nas manchetes. Difilmente grudará no plenário do Supremo. Mas Dirceu desfila o figurino de culpado inocente. Ou de inocente culpado.

Magnânimo, fala como se não estivesse preocupado com a própria biografia. Inquieta-se com a reputação da esquerda.

"Eu acho que [a desmontagem da ‘farsa’] é a defesa do governo do presidente Lula, do PT, da história da esquerda...”

“...Eu não fui julgado. Tentaram julgar o governo do presidente Lula, mas as urnas em 2006 e 2010 julgaram e aprovaram o governo do presidente”.

A platéia costuma desconfiar dos idealistas que, depois de extrair dividendos de seus ideias, saem em defesa de causas alheias.

Dirceu tem prioridades mais urgentes. Precisa convencer os ministros do STF, não a humanidade. Estão em causa as valeriana$, não a história da esquerda.

Na passagem pela Casa Civil, Dirceu serviu-se de uma máscara comum a boa parte dos homens pequenos que ocupam grandes cargos.

Uma máscara que o fez desconhecido a tal ponto que, no exercício do poder, revelou-se tão malicioso quanto ali esperava-se que fosse virtuoso.

Caiu antes de que pudesse ensaiar a reparação do engano. Agora, dedica-se à execração da mídia que serviu de veículo para a exposição da face escondida atrás do disfarce.

“O Brasil precisa entrar no século 21 em matéria de mídia", disse a máscara no palco oferecido pela CUT. A chave para os novos tempos seria um órgão regulador.

"Regulação da mídia não é censura à mídia. Regulação como existe nos EUA, na França e na Inglaterra, adaptada às nossas necessidades e pactuada...”

“...Não é imposto a ninguém. Nós estamos numa democracia, é o Congresso que aprova, se não pactuar, não construir consensos, não aprova".

Beleza. O diabo é que Dirceu é a última pessoa credenciada para a defesa da reforma da mídia. Antes, precisa reformar-se a si mesmo.

Em defesa do companheiro, alguém precisa propor, urgentemente, o controle social de José Dirceu. O marco regulatório de Dirceu não seria censura.

Seria apenas uma forma de adaptar o bom senso às necessidades de um réu à espera de julgamento.

Líder estudantil, Dirceu via no movimento da rapaziada, como já escreveu, um “assalto aos céus”.

Ao despencar dos céus do Planalto, encontrou na planície das folhas da denúncia do Ministério Público a acusação de outro tipo de assalto.

O convívio com a luta armada há de ter desenvolvido em Dirceu a dimensão da morte. Para se livrar da cova política, precisará de algo mais além da retórica da “farsa”.

Escrito por Josias de Souza

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