O vereador Adilson Amadeu levou hoje à Câmara de São Paulo dois exemplares do
livro "Traição", de Karin Alvtegen, para "presentear" os colegas Antonio Goulart e Jooji Hato.
O prefeito Gilberto Kassab (DEM) conseguiu eleger José Police Neto (PSDB) para a presidência da Câmara dos Vereadores a partir de 1º de janeiro de 2011, numa eleição muito disputada, mas em clima circense, na manhã desta quarta-feira (15), em São Paulo.
Kassab articulou o apoio de um grupo bem variado de forças políticas, do PMDB ao PCdoB, e derrotou o chamado Centrão, que dirigia a Casa havia seis anos, além do PT e de setores de seu próprio partido, o Democratas, que o prefeito deve abandonar em 2011.
A ação do prefeito produziu algumas baixas, decisivas para o resultado favorável a ele. Entre os vereadores que integravam o Centrão, pelo menos dois, Antonio Goulart e Jooji Hato, ambos do PMDB, mudaram de lado. Foi para eles que o vereador Adilson Amadeu tentou entregar exemplares do romance policial “Traição”, de Karin Alvtegen. “Se eles lerem, vão fazer uma imagem diferente do que é traição”, dizia Amadeu, antes do início da sessão, exibindo os dois exemplares com autógrafos de nove colegas do grupo político.
Inconformado com os votos de Hato e de Ushitaro Kamia (DEM), Aurélio Miguel (PR) passeava pelo plenário da Câmara com um sabre, segundo ele, utilizado em rituais de “haraquiri”. “O samurai, para não desonrar a sua família, se mata utilizando esta faca quando perde a sua honra”, explicava o ex-lutador de judô. “Trouxe a faca para refrescar a memória de alguns. Eles sabem muito bem o que eu estou falando”, dizia o vereador.
Outro vereador que trocou de lado, Milton Ferreira (PPS), só chegou quando a votação já havia começado. Muitos especulavam que ele iria faltar, para não ter que mudar o seu voto. “Está preso no trânsito”, arriscou um vereador. “Não, está solto”, disse seu colega de bancada Claudio Fonseca (PPS), irônico, sugerindo que Ferreira não queria chegar.
A votação foi aberta, o que permitiu a todos os 55 vereadores se manifestarem. As ironias e piadas logo começaram. “Quero indicar como candidato a presidente o vereador Milton Leite (DEM), do mesmo partido do prefeito, que talvez não se lembre disso”, disse Carlos Apolinário (DEM), em apoio ao candidato do Centrão.
Leite, ao votar, falou sobre “aqueles que nos apunhalam”, reforçando com palavras a imagem que Aurélio Miguel ilustrou com seu pequeno sabre. “Perco de pé, mas não ganho de joelhos”, disse o vereador, lamentando que o DEM, “meu partido e do prefeito”, não tenha fechado questão sobre a votação.
Coube ao campeão olímpico Aurélio Miguel um dos discursos mais fortes contra Kassab: “Tentaram comprar o PR, mas o partido não está à venda. O prefeito ofereceu cargos... Por isso trago o símbolo da honra”, disse, exibindo a faca.
Muito identificado com o Corinthians, Antonio Goulart teve o dissabor de ouvir gritos de “Palmeiras” no momento em que confirmou seu voto em Police Neto. Goulart disse ter obedecido à orientação do PMDB e disse não aceitar a pecha de “traidor”. O vereador foi contemplado com o cargo de 1º vice-presidente da Mesa, o segundo em importância. Jooji Hato usou o mesmo argumento: “Traição teria sido se traísse meu partido”.
Jamil Murad (PCdoB) justificou o apoio de seu partido à articulação do prefeito “em nome da democracia e contra a intimidação”. Em todo caso, Netinho de Paula (PC do B), o outro integrante da bancada, foi eleito 1º secretário da Mesa, com o apoio dos mesmos vereadores que elegeram Police Neto.
Ao votar, o líder do PT, José Américo, falou explicitamente que a eleição foi marcada por troca de favores e promessas de cargos. “A história desta eleição pode ser acompanhada aqui, hoje, e nas páginas do ‘Diário Oficial’, nas próximas semanas”.
A vereadora Sandra Tadeu foi vaiada pelo público que assistia à votação da galeria ao dizer: “Nos dois anos em que estive aqui, só obedecemos ordens”. Depois dos apupos, observou: “Quem tem medo, traz plateia”, sugerindo que a claque estava encomendada. “Foram trazidos”, gritou Agnaldo Timóteo (PR), em apoio a Sandra.
Por volta das 9h40, o atual presidente, Antonio Carlos Rodrigues (PR), proclamou o resultado, que sagrou Police Neto vencedor com 30 votos, contra 25 de Milton Leite.
Na sequência, foram eleitos os demais membros da Mesa, sempre com vitória dos candidatos da coalizão pró-Kassab, a saber: Antonio Goulart (PMDB, 1º vice-presidente); Claudio Prado (PDT, 2º vice-presidente); Netinho de Paula (PCdoB, 1º secretário); Atílio Francisco (PTB, 2º secretário); Ushitaro Kamia (DEM, 1º suplente) e Adolfo Quintas (PSDB, 2º suplente).
A posse será em 1º de janeiro de 2011. A Mesa tem mandato de um ano. O orçamento da Câmara em 2010 foi de R$ 356,6 milhões.
Mauricio Stycer
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Não tem jeito, tanto lá quanto cá não há diferença, quem elege a mesa diretora da Câmara Municipal é a caneta do prefeito, são os cargos de livre provimento, o dinheiro público. Ou come na mão da administração ou não se reelege, com raríssimas exceções. Independência entre os poderes é balela! INFELIZMENTE.
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