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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

PT se rebela contra acertos de seu próprio presidente.

Foto: Antônio Cruz

Credenciado por Dilma Rousseff como negociador dos acordos políticos da transição, José Eduardo Dutra enfrenta um problema inesperado.

Entre os dez partidos que integram a megacoligação de Dilma, o mais insatisfeito com a ação Dutra é o PT, a legenda "presidida" por ele.

A contrariedade do petismo beira a rebelião. Em timbre acusatório, deputados e senadores da legenda dizem que Dutra se rende ao PMDB.

Fracionado em grupos e tendências, o PT encontrou nas críticas a Dutra um fator de união. Antes subterrâneas, as queixas começam a transbordar.

Soaram numa reunião dos senadores do PT, realizada na terça (9), sem Dutra. E ecoaram num encontro dos deputados, nesta quarta (10), com Dutra.

Nos dois foros, respirou-se uma atmosfera de animosidade contra o PMDB, que divide com o PT a condição de sócio majoritário do consórcio governista.

Disseminaram-se duas avaliações: 1) O apetite do PMDB é incompatível com seu desempenho nas urnas; 2) Dutra não defende a contento os interesses do PT.

O petismo questiona critérios levados à mesa por Michel Temer e supostamente aceitos por Dutra. Os dois conversaram na semana passada.

Vice de Dilma e presidente do PMDB, Temer levantou a seguinte tese: no “novo” governo, a repartição da Esplanada deve preservar os acordos firmados sob Lula.

Significa dizer que o PMDB conservaria os seis ministérios que controla hoje. Para as bancadas do PT, a proposta não tem nexo. Por quê?

O PMDB murchou nas urnas de 2010. Perdeu governadores e, sobretudo, deputados. Sua bancada na Câmara caiu de 99 para 79 –menos que os 88 eleitos pelo PT.

Para os partidários de Dutra, considerando-se o desempenho eleitoral do PMDB, seu quinhão precisa diminuir. E o pedaço do PT –17 ministérios hoje—, aumentar.

O partido de Dutra e Dilma ambiciona a Saúde e as Comunicações, duas que Lula confiou ao PMDB.

O PMDB alega que a presença de Temer na vice o faz um acionista mais qualificado. Argumenta que "ajudou" a construir a vitória. E poderia até exigir mais.

O PT dá de ombros. Enxerga na posição amealhada por Temer mais uma razão para reduzir a presença do PMDB no resto do governo.

No mata-e-esfola que se verificou na reunião desta quarta (10), Dutra chegou mesmo a ouvir de deputados do PT ataques a Henrique Meirelles.

Na contramão do que prega Lula, um pedaço do PT almeja a exclusão de Meirelles da gestão Dilma. Presidente do BC, ele se filiou ao PMDB em setembro de 2009.

No mais, Temer e Dutra haviam ratificado na semana passada o pré-acordo que prevê o revezamento do PT e do PMDB na presidência da Câmara.

Nesse ponto, o petismo acusa Dutra de ter negligenciado a outra Casa do Legislativo. Para o PT, o rodízio na Câmara só é aceitável se for estendido ao Senado.

As posições das duas legendas estão invertidas. Na Câmara, o PT reúne a maior bancada. No Senado, o PMDB (19 senadores contra 14) está à frente.

O revezamento da Câmara é repeteco do ocorrido na atual legislatura (2006-2010) –dois anos para o petê Arlindo Chinaglia e um biênio para o pemedebê Temer.

Alega-se que o arranjo não foi reproduzido no Senado porque o PT era quarta bancada. Agora, é a segunda. E exige reciprocidade.

As queixas a Dutra incluem, além da forma, o método. O presidente do PT acomoda a negociação ministerial e os acertos do Congresso em escaninhos distintos.

Para o grosso do PT, um erro. Avalia-se que, depois de obter o que deseja no arranjo do ministério, o PMDB tende a endurecer suas posições no Congresso.

Em verdade, o PMDB já traz as lanças erguidas. No revezamento da Câmara, reivindica o comando do primeiro biênio (2011-2012).

Argumenta que, na atual legislatura, a despeito de dispor da maior bancada, cedeu a presidência dos primeiros dois anos ao petista Chinaglia.

No Senado, o PMDB dá uma banana para o PT. Afirma que, diferentemente do que sucede na Câmara, o regimento do Senado reserva a presidência à maior bancada.

Estender o rodízio da Câmara ao Senado significaria, na visão do PMDB, rasgar o regimento.

De resto, a cúpula do sócio do PT esgrime argumentos com cheiro de ameaça. A caciquia do PMDB diz que “Dilma não é Lula”.

Como assim? Nos últimos oito anos, as encrencas do Legislativo diluíram-se sob a popularidade e o carisma de Lula. Dilma, por noviça, dependerá muito mais da "ajuda" do PMDB.

“Brigar com a gente antes da posse é burrice”, disse um líder do PMDB ao repórter. Outro morubixaba da legenda realçou a posição estratégica de Temer:

“Se as coisas não caminharem bem, a Dilma não vai poder nem viajar à Bolívia”, afirmou, entre risos.

Escrito por Josias de Souza

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