da Folha de S.Paulo, em Brasília
Fama de chantagista, dezenas de processos, inquéritos criminais e ações de improbidade milionárias nas costas, o policial civil e ex-secretário Durval Barbosa cedeu à PF o próprio corpo como instrumento para captar as gravações que atingiram o governo de José Roberto Arruda (DEM-DF).
Em troca, queria o benefício da delação premiada. E se transformou em uma espécie de homem-bomba da Operação Caixa de Pandora, apesar de não ter recebido nenhuma garantia de que terá os benefícios da delação, pois as denúncias que fez, gravou e filmou dizem respeito a autoridades que têm direito a foro especial e, portanto, tramitam no Superior Tribunal de Justiça.
Os processos a que responde, contudo, estão na primeira instância, na qual o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios não demonstra disposição de lhe oferecer benefícios.
Barbosa conhecia o ambiente onde seria feita a gravação, desfrutava da confiança do governador (que já fora abalada no passado, mas havia sido restabelecida) e, na retaguarda, contava com a PF.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o mais provável é que Durval Barbosa tenha usado o que há de mais simples: uma câmera de vídeo adaptada ao botão do paletó, no qual também foi instalado um microfone imperceptível.
Na parte de dentro do paletó, o dispositivo foi conectado a um aparelho de MP4, com bateria com autonomia de quatro a oito horas de gravação.
Foi assim que chegou à residência oficial do governador em Águas Claras, no dia 21 de outubro, e iniciou um bate-papo com o então chefe da Casa Civil, José Geraldo Maciel. O governador chegou quase uma hora depois, por volta de 13h, e quis ficar a sós com Barbosa.
Na ocasião, apenas se falou no pagamento à base aliada, para o qual haveria R$ 400 mil disponíveis e aos quais se juntariam outros R$ 200 mil com o mesmo destino --tudo bancado por empresas que mantinham contrato com o governo.
Ao deixar o local, Barbosa se dirigiu à PF. Lá, devolveu o equipamento. As imagens e sons captados foram repassados a um computador para transcrição, o que se transformou em um relatório de 53 páginas incluído no inquérito.
Paralelamente, os policiais lançaram mão de outros artifícios tecnológicos para buscar as digitais de eventuais beneficiários do mensalão do DF.
Misturaram uma tinta especial invisível a um componente químico reagente a um certo tipo de luz --o mais seguro é infravermelho-- e marcaram notas que Barbosa repassaria a Maciel para distribuição à deputados da base aliada, conforme orientação de Arruda. O símbolo era uma elipse no centro da qual havia o número 650, em referência ao inquérito do caso, que tramita no STJ.
A ideia era, ao deflagrar a busca e apreensão, no dia 27 de novembro, encontrar na casa de pelo menos parte dos alvos algumas notas marcadas. Entre os montantes em espécie apreendidos pela PF há R$ 700 mil, mas nenhuma das cédulas era das carimbadas.
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