Acostumado a fazer pose para São Paulo e para o Brasil, Paulo Maluf ganhou platéia nova. Representa agora para os EUA.
Levado à lista de procurados da Interpol, o deputado foi à boca do palco enrolado na bandeira brasileira.
Fronte alta, Maluf anunciou a abertura de um processo judicial contra o promotor distrital de Nova York, Robert Morgenthau.
Partiu de Morgenthau o pedido que converteu Maluf e Flávio, o filho do deputado, em caçados internacionais da Interpol.
Coisa “arbitrária”, Maluf se queixa. Procedimento “não condizente com o que rege o Direito internacional”. Pior: uma afronta à “soberania das nações livres”.
O promotor americano, veja você, “decidiu acusar cidadão brasileiro”. Mais que isso: “Membro do Congresso Nacional”.
Não é só: Morgenthau acusa Maluf, no dizer do deputado, “de S-U-P-O-S-T-O-S fatos que, por absurdo, T-E-R-I-A-M ocorrido no Brasil”.
E para quê? “Com o fim de serem julgados pela Corte Americana”. Para completar, emitiu-se “ilegalmente um alerta vermelho para a Interpol".
Justificável a revolta de Maluf. O promotor Morgenthau, por alienígena, desconhece os mais tradicionais costumes brasileiros.
Ora, no Brasil, supostos bandidos dispões de regalias. Acima de um certo nível de renda, ninguém é alcançado pela lei.
Bem verdade que os supostos malfeitos atribuídos a Maluf e Flávio renderam à dupla, em passado recente, 40 dias de cana. Porém...
Porém, Maluf, o suposto violador de arcas públicas, foi brindado pelo eleitor paulista com um mandaro de deputado.
Maluf é, hoje, feliz beneficiário do privilégio de foro. O processo em que é acusado de suposta bandalheira subiu ao STF.
O relator, Ricardo Lewandowiski, supostamente assoberbado, demora-se em folhear os autos. Mais um ano e as suposta ladroagem será recoberta pela prescrição.
Maluf já se insurgira contra o promotor Silvio Marques, do Ministério Público de São Paulo.
Refutara a acusação de suposto envio de dinheiro para contas supostamente abertas em casas bancárias do exterior.
Contestara a suposição de que as verbas, que teriam sido obtidas em suposto roubo de fundos públicos, transitaram por supostas contas de Nova York.
Negara que, dos EUA, o suposto dinheiro teria migrado para supostas contas supostamente abertas eem bancos de Jersey e da Suíça.
Por tudo isso, é mesmo incompreensível a perseguição do promotor Morgenthau contra o suposto ladrão brasileiro.
Ao processar seu algoz americano, Maluf demonstra que a sua grande pose não é para São Paulo, para o Brasil, para os EUA ou para o Juízo Final.
O deputado veste seu melhor terno, aperta no pescoço sua mais vistosa gravata, leva ao palco suas melhores virtudes para o seu próprio julgamento.
Um julgamento particular. Nelson Rodrigues diria que o promotor Morgenthau enxerga em Maluf um vampiro de Düsseldorf.
Mas o deputado não se vê senão como um reles bebedor de groselha. Por isso invoca a soberania. Por isso exalta a condição de membro do Congresso Nacional.
O Brasil, esse suposto país, merece mais respeito.
- Em tempo: Ilustração via sítio Charges do Benett.
Escrito por Josias de Souza às 17h57
O pior de tudo isso é ver este pilantra argüindo sua condição de membro do Congresso Nacional. Pobre Congresso Nacional, Pobre país.
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