Jorge Araújo/Folha
De passagem por Porto Alegre, Dilma Rousseff subiu o tom no debate sobre o valor do novo salário mínimo.
Disse que o governo vai manter os R$ 545 que já propôs. Considerou, de resto, que “não é correta” a vinculação do mínimo com a tabela do IR.
Dilma fala grosso dois dias depois de o ministro Gilberto Carvalho (Secretaira-Geral da Presidência) ter recebido representantes das centrais sindicais.
Apoiadores de Dilma na eleição de 2010, os sindicalistas tentam cobrar a fatura em 2011. “Exigem” que o governo eleve o mínimo para R$ 580.
Dilma evoca o acordo celebrado por Lula com as centrais em 2007. Previa que o mínimo seria reajustado pela inflação, mais o PIB dos dois anos anteriores.
A crise financeira global roeu o PIB de 2009. Daí o reajuste mixuruca. Dilma recorda que, mantido o acordo, o próximo reajuste será melhor. Ela cobra coerência:
"O que queremos saber é se as centrais querem ou não a manutenção do acordo no período do nosso governo. Se querem, o que nós propomos para esse ano é R$ 545".
Quanto à tabela do IR, as centrais pedem a correção pela inflação de 2010: 6,47%. Carvalho acenou com 4,5% (centro da meta inflacionária para 2011).
No vácuo de Carvalho, Guido Mantega (Fazenda) soou noutra direção. O governo, disse ele, não estuda correção da tabela do IR.
Ficou a imprenssão de que, expressando-se em português, os ministros falaram línguas diferentes.
Sobre a matéria, Dilma roncou: "Jamais damos indexação inflacionária, por isso não concordamos com o que saiu nos jornais”.
Disse que o reajuste da tabela, “se houvesse”, jamais poderia levar em conta a inflação pretérita.
“Teria sempre que olhar não a inflação passada, porque isso seria carregar a inércia inflacionária para dentro de uma questão essencial que é o Imposto de Renda..."
"...O que foi dado sempre foi uma mudança baseada na nossa expectativa de inflação futura, que é o centro da [meta da] inflação, os 4,5%".
Dilma negou que Carvalho e Mantega estejam em desacordo. Insinuou que, ao negar os estudos, o titular da Fazenda quis dizer que não topa os 6,47%, mas os 4,5%.
A presidente também disse que a negociação com as centrais está “apenas começando”.
Diante das balizas que fixou, a menos que venha a afinar o tom de voz, Dilma atribui ao começo uma atmosfera de fim de linha.
Escrito por Josias de Souza
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