Em pleno ocaso, a escassos quatro meses e três dias de deixar o governo, Lula expediu, em comício realizado na cidade de Recife, um aviso à oposição.
Em meio a estocadas nos rivais e a pedidos de voto para os aliados, disse: "Tem caneta ainda para pintar miséria nesse país".
Lula escalou o palanque pernambucano na noite passada. Ali, no torrão natal, com o tinteiro da popularidade pela tampa, sua aprovação roça a unanimidade.
Considerando-se os dados das pesquisas, o evento de campanha era desnecessário. Mas Lula não deseja apenas o êxito. Ele aspira a asfixia da oposição.
Ao lado de Dilma Rousseff, pediu votos para a pupila. Abusou do lero-lero maternal que adotou como marca (assista no vídeo lá do alto).
Discorreu sobre a falta de sentido do preconceito contra as mulheres. Enalteceu-lhes o papel de “mãe”, que se desdobra para grudar em sua candidata.
Seu discurso soou supérfluo. Em Pernambuco, diz o Datafolha, Dilma ostenta vantagem de 41 pontos percentuais sobre José Serra –62% a 21%.
É mais do que o próprio Lula obteve contra o mesmo Serra em 2002. Mas ele ainda acha pouco. Disse que deseja para Dilma maior votação da história.
Reiterou o apoio ao governador Eduardo Campos (PSB), candidato à reeleição. De novo, uma demasia.
No último Datafolha, Eduardo, que governa com a caneta ensopada de tinta federal, abriu 50 pontos sobre Jarbas Vasconcelos (PMDB) –67% a 19%.
Lula espezinhou Jarbas, um de seus mais ferozes críticos: "Se continuar do jeito que está, o adversário dele vai ter que pagar ponto do Ibope para ele".
O presidente encomendou votos para os seus candidatos ao Senado: Humberto Costa (PT) e Armando Monteiro (PTB). Desnecesário.
Tomado pelo Datafolha, o petê Humberto (44%) lidera a disputa pelos dois assentos de senador reservados a Pernambuco.
O petebê Armando (29%), em curva ascendente, encostou no ‘demo’ Marco Maciel (33%), que largara na corrida com índice de 40%.
Como que decidido a reduzir o ex-favorito Maciel à condição de humilhado, Lula dirigiu uma pergunta à audiência:
"No tempo que ele era vice-presidente [da República], o que foi que ele trouxe para pernambuco?" E a platéia, em uníssono: “Naaaaada”.
Lula reservou uma palavra de desapreço até para quem não parece constituir uma ameaça ao seu projeto de hegemonia.
Referiu-se a Raul Jungmann (PPS), candidato ao Senado com 11% das intenções de voto, como "aquele menorzinho".
Emendou: "Pernambuco de Arraes, de Frei Caneca e de Eduado Campos não pode votar nesse tipo de gente".
Encareceu à audiência que opte também pelos candidatos a deputado de sua coligação –os federais e os estaduais.
Nesse ponto, pespegou no “tipo de gente” que milita na oposição um adjetivo de carga eloquentemente pejorativa: “Picaretas”.
Antes do compromisso eleitoral, Lula cumprira, em Pernambuco, uma agenda pseudoadministrativa. Passara por Caruaru e Ipojuca.
Visitou as obras da refinaria Abreu e Lima e inaugurou um gasoduto, empreendimento do PAC. Subiu num pa©lanque.
Em discurso com cara de pa©tóide, tornou impossível distinguir o chefe de Estado do cabo eleitoral.
Diante do microfone, os dois personagens se diluem numa mistura auto-promocional que leva a um processo de fusão administrativo-eleitoreira a frio (assista abaixo).
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