Nos comícios de que participa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva gosta de repetir que não quer deixar para sua candidata ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff (PT), “um Senado tão ruim quanto esse do meu governo”. A um mês da votação, a principal trincheira da oposição em Brasília já não parece fadada a perder algumas de suas principais figuras, de acordo com as pesquisas de intenção de voto.
Como líder do PSDB no Senado, Arthur Virgilio (AM) já baixou o tom antigovernista e tem evitado críticas ao presidente – que em 2006 teve no Estado a maior votação proporcional nas eleições presidenciais, com quase 90% dos votos válidos. Mas um confortável segundo lugar, com cerca de 20 pontos percentuais a mais que a terceira colocada, Vanessa Graziotin (PCdoB), deixa o tucano tranquilo até agora.
Antes de se preparar para a disputa eleitoral, Virgilio já declarou que “daria uma surra” em Lula, articulou CPIs, proferiu discursos duros durante os escândalos dos últimos anos e foi o principal motor do movimento para apear José Sarney (PMDB-AP) da presidência do Senado. Sua atuação nesse momento levou o presidente a alimentar candidaturas no Amazonas para substituir o oposicionista.
Outro grão-tucano que corria risco antes das eleições, Tasso Jereissati (CE), articulou com a base do governador Cid Gomes (PSB) e com prefeitos peemedebistas para isolar uma das candidaturas ligadas a Lula em seu Estado. Se as eleições fossem hoje, ele estaria eleito com quase de 70% dos votos válidos. Dois ex-ministros da gestão atual – Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT) – disputariam a segunda vaga.
Foi um dos oposicionistas mais ativos no movimento que deu fim à CPMF (Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira) e em 2007, durante bate-boca com Aloizio Mercadante (PT-SP) em uma sessão no Senado, adotou postura truculenta. "É um mal-educado. Vamos para o pau nós dois então", afirmou à época. Tasso é também um dos principais adversários da política externa do governo Lula.
Vice-presidente do Senado e um dos oposicionistas que mais desagradam a Lula, o candidato do PSDB ao governo de Goiás, Marconi Perillo, é favorito na disputa contra Iris Rezende (PMDB). Se vencer no primeiro turno, como indicam as pesquisas, será um dos principais líderes do partido a partir do ano que vem. O tucano é um dos maiores acusadores do presidente durante o escândalo do mensalão.
Perillo tornou pública uma conversa com Lula antes da descoberta do esquema de compra de apoio político, em 2005, na qual teria feito alerta ao presidente. Depois disso, foi vetada uma tentativa de aproximação entre o tucano e Dilma. A antipatia palaciana também se deve à atuação do senador na CPI dos Cartões Corporativos. Ali, ele ajudou a convocar, em 2008, diversos integrantes do alto escalão.
Na elite tucana no Senado, a ausência garantida a partir do ano que vem é a do presidente do partido, Sergio Guerra (PE), que desistiu de se candidatar à reeleição por uma segura tentativa de se garantir na Câmara dos Deputados a partir do ano que vem. No Estado onde nasceu o presidente, Humberto Costa (PT) lidera por ampla margem e a segunda vaga está em disputa acirrada: o ex-vice-presidente Marco Maciel (DEM) e Armando Monteiro Neto (PTB) estão no páreo.
"Demos” de Lula
Os democratas devem sofrer mais que os tucanos para eleger seus senadores. Mesmo figuras coroadas, como Marco Maciel e o ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia, estão sofrendo nas pesquisas diante de adversários governistas. Ainda assim, há parlamentares chave na principal trincheira oposicionista que resistem ao avanço da base de Lula e de Dilma.
Líder da oposição no Senado, José Agripino Maia (DEM-RN) é rival do candidato à reeleição Garibaldi Alves Filho (PMDB) e da ex-governadora Wilma de Faria (PSB). Ainda assim, ao contrário dos prognósticos de especialistas locais, está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, surfando na popularidade da favorita para o governo estadual, Rosalba Ciarlini, também do Democratas.
Ainda assim, Agripino fez concessões, como elogiar o programa Bolsa Família em entrevista a rádios locais - postura diferente da adotada em 2004, quando criticou o “cartão esmola eletrônica”. Críticas a Dilma também têm sido calculadas: há dois anos, ele ouviu um sermão da então ministra – já apontada como presidenciável – por sugerir que ela mentia demais em um depoimento no Senado.
Em Goiás, outro desafeto de Lula, Demóstenes Torres (DEM), tem o primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. Os governistas apostavam em um racha entre ele e os tucanos de Perillo, que acabaram com a preferência para disputar o governo estadual. Apesar disso, o responsável por alguns dos discursos mais duros e contra o governo – respeitado até por aliados do presidente – deve se reeleger com folga.
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