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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Saída de Erenice esfarela miolo do discurso de Dilma.

Março: Dilma passa a Casa Civil à amiga Erenice; hoje, não tem 'nada a ver' com ela 

Depois de ter sido renunciada da Casa Civil por Lula, Erenice Guerra virou protagonista da fábula do “nada a ver”.

Ex-madrinha de Erenice, Dilma Rousseff começara a tomar distância da amiga já no final de semana. Evitara levar a mão ao fogo por Erenice.

Nesta quinta (16), mãos ainda intactas, a pupila de Lula tentou erguer um muro entre o infortúnio de Erenice e a campanha eleitoral.

“Eu não acredito que tenha uma coisa a ver com a outra. Uma coisa é o que aconteceu, e outra é a minha campanha”.

Avolumam-se os indícios de que os negócios cavalgados por Israel Vargas, o filho de Erenice, trotavam na Casa Civil desde a época em que Dilma era ministra.

Erenice era a segunda de Dilma. Mas a candidata, obviamente, não tem nada a ver com isso. Ela se apressa em perguntar:

"Onde está a prova de que eu esteja envolvida nesse caso? É importante no Brasil que a gente não perca a referência das conquistas da civilização...”

"...Tem de provar que você fez. Não você provar que não fez. Como eu estou envolvida nesse caso? Aliás, tomei conhecimento dele pelos jornais".

Por ora, Dilma só foi acusada de ser responsável pela acomodação de Erenice na equipe da Casa Civil. Mas ela parece não ter nada a ver com isso também.

É forte a suspeita de que Erenice deu ao rebento o aval para que usasse e abusasse do prestígio da mãe.

Um prestígio que aumentou em fins de março, quando Dilma foi aos palanques e Erenice ganhou a cadeira de ministra.

Dilma, obviamente, não tem nada a ver com isso, como não teve nada a ver com aquele dossiê dos gastos de Ruth e FHC, que Erenice coordenara.

Aquilo, aliás, nem era dossiê, mas um mero banco de dados, como já ficou demonstrado na desconversa anterior.

Um empresário de Campinas disse que o filho de Erenice tentou mordê-lo numa transação que envolvia empréstimo do BNDES. Coisa de novembro de 2009.

Dilma ainda era ministra nessa época, mas não tem nada a ver com o caso. Soube agora, “pelos jornais”.

A candidata, inclusive, estranha o valor do empréstimo: R$ 9 bilhões para um projeto energético. Ironiza:

Tanto dinheiro “para 600 megawatts, seria o projeto de energia mais caro do Brasil. [...] Se o BNDES o recusou, fez muito bem”.

"Essa história me parece aquela história de compra e venda de terreno na lua", Dilma acrescenta.

O Planalto confirmou que o tal empresário foi recebido na Casa Civil. Decerto foi sondar a consistência do solo da lua. Dilma não tem nada a ver com isso.

Injetou-se no histórico da Dilma ministra uma contradição com o discurso da Dilma candidata.

Vende-se na propaganda eleitoral que Dilma era a mandachuva do governo. Os programas que “deram certo” trazem as digitais dela.

Bolsa Família, Prouni, Luz para Todos, Minha Casa, Minha Vida. Tudo fruto do talento gerencial da ministra Dilma.

Movida por interesses eleitorais, a oposição questiona a candidata Dilma: E a Casa Civil? O petismo responde: Nada a ver.

Embora não pareça, a fábula do “nada a ver” faz sentido. Ocupada com em fazer funcionar o governo, Dilma não teve tempo de cuidar da Casa Civil.

Permitiu que seu ministério se convertesse em portão de acesso à casa de uma conhecida senhora: a mãe Joana.

O comitê de Dilma precisa considerar a hipótese de tatuar na testa da candidata uma frase definitiva: “Minha campanha não tem nada a ver com isso”.

Assim, a imprensa se eximiria de perguntar, Dilma não teria que responder e a platéia seria poupada do ar de enfado da candidata.

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