Ele se chama Onézimo Sousa. É delegado aposentado da Polícia Federal. Ganhou súbita notoriedade. Foi ao noticiário como chefe de um grupo de espionagem que se tentou montar no porão do comitê de campanha de Dilma Rousseff.
O policial de pijamas foi trazido à boca do palco pelos repórteres Policarpo Junior e Daniel Pereira. Entrevistaram-no. E levaram o conteúdo da conversa às páginas de Veja.
Onézimo contou que, de fato, participou de uma reunião de planejamento. Afirma que, por ter discordado dos métodos e do tipo de operação, refugou a oferta de trabalho. Previa dois movimentos.
Num, desejava-se identificar um membro da campanha de Dilma a quem se atribuía o vazamento de informações estratégicas do comitê. As suspeitas recaíam sobre Rui Falcão (PT-SP). Noutro, planejava-se espionar o presidenciável tucano José Serra, familiares, amigos e o deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ).
Onézimo relatou que foi convocado para uma reunião com Fernando Pimentel (PT-MG), amigo de Dilma e um dos coordenadores da campanha petista. No local combinado, a área reservada de um restaurante fino de Brasília, apareceu o jornalista Luiz Lanzetta. É dono da Lanza Comunicação, contratada pelo PT para atuar no setor de comunicação da campanha.
Segundo Onézimo, Lanzetta lhe disse que falava em nome de Pimentel. A conversa desceu às cifras. Onézimo receberia R$ 1,6 milhão, em parcelas mensais de R$ 160 mil por mês.
Não haveria contrato. O dinheiro seria provido por Benedito de Oliveira Neto, um dono de empresas que prosperou sob Lula, prestando serviços ao governo. Benedito estava presente à reunião. Também tomou parte da conversa um repórter chamado Amaury Ribeiro Jr.
Abaixo, a entrevista que o delegado Onézimo concedeu a Policarpo e Daniel:
- O senhor foi apontado como chefe de um grupo contratado para espionar adversários e petistas rivais?
Fui convidado numa reunião da qual participaram o Lanzetta, o Amaury [Ribeiro], o Benedito [de Oliveira, responsável pela parte financeira] e outro colega meu, mas o negócio não se concretizou. Havia problemas de metodologia e direcionamento do trabalho que eles queriam.
-Como assim?
Primeiro, queriam que a gente identificasse a origem de vazamentos que estavam acontecendo dentro do comitê. Havia a suspeita de que um dos coordenadores da campanha estaria sabotando o trabalho da equipe. Depois, queriam investigações sobre o governador José Serra e o deputado Marcelo Itagiba.
-Que tipo de investigação?
Era para levantar tudo, inclusive coisas pessoais. O Lanzetta disse que eles precisavam saber tudo o que eles faziam e falavam. Grampos telefônicos...
- Pediram ao senhor para grampear os telefones do ex-governador Serra?
Explicitamente, não. Mas, quando me disseram que queriam saber tudo o que se falava, ficou implícita a intenção. Ninguém é capaz de saber tudo o que se fala sobre alguém sem ouvir suas conversas. Respondendo objetivamente, é claro que eles queriam grampear o telefone do ex-governador.
- Disseram exatamente que tipo de informação interessava?
Tudo o que pudesse ser usado contra ele na campanha, principalmente coisas da vida pessoal. Esse é o problema do direcionamento que eu te disse. O material não era para informação apenas. Era para ser usado na campanha. Na hora, adverti que aquilo ia acabar virando um novo escândalo dos aloprados.
- Quem fez essa proposta?
Fui convidado para um encontro com Fernando Pimentel. Chegando lá no restaurante, estava o Luiz Lanzetta, que eu não conhecia, mas que se apresentou como representante do prefeito.
- Ele pediu para investigar os petistas também?
Disse que estava preocupado, que tinha ocorrido uma reunião entre os seis coordenadores da campanha e que tudo o que havia sido discutido foi parar nos jornais. Havia alguém vazando informações, e ele queria saber quem era. Suspeitava do Rui Falcão.
Ouvido, Fernando Pimentel disse que não conhece Onézimo. Afirmou que Luiz Lanzetta não está autorizado a falar em seu nome. Lanzetta, segundo Veja, declarou ter feito "uma bobagem". Alegou que o grupo agiria apenas evitar ataques dos adversários.
Ao longo da semana PT e PSDB trocaram farpas. Serra atribuiu à rival Dilma a montagem de um dossiê contra ele. “Uma injustiça”, uma “ignomínia”, respondeu a candidata petista.
Presidente do PT, José Eduardo Dutra anunciou que, na segunda (7), vai interpelar Serra judicialmente. Se confirmar o que disse, será alvo de um pedido de indenização por danos morais. “Uma bobagem”, reagiu Serra. Cabe ao PT se explicar, disse ele.
Curiosamente, a empresa de Luiz Lanzetta continua formalmente contratada pelo PT.
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