Em campanha há quase 90 dias, José Serra não gastou um minuto sequer na oposição a Lula.
Pois neste sábado (12), na convenção nacional do PSDB, Serra como que tirou o atraso.
Em 45 minutos de discurso, comparou Lula ao monarca absolutista francês Luis ‘L'État C'est Moi’ 14.
Insinuou que o presidente patrocina a candidatura de uma paraquedista, gere um governo tomado por “patotas corporativas” e elogia ditadores.
Mencionou, pela primeira vez, o mensalão, escândalo que sacudiu o primeiro mandato de Lula e levou 40 ao banco de réus do STF.
O surto oposicionista de Serra ocorre nas pegadas do noticiário sobre a malograda tentativa do comitê rival de compor um grupo para espioná-lo.
Até aqui, o candidato tucano vinha se esquivando das críticas a Lula. Só levava à alça de mira Dilma Rousseff.
Críticas ao governo, só pontuais: os juros altos, o câmbio sobrevalorizado.
Na maioria das entrevistas, a promessa de manter o que “está funcionando” e “aperfeiçoar” programas como o Bolsa Família.
O “novo” Serra teve o cuidado de não citar nomes. Mas, tomadas pelo contexto, suas frases tiveram endereço.
“Nós acreditamos na democracia, e essa não é uma crença de ocasião”, Serra iniciou. Na sequência criticou o personalismo de Lula.
Foi nesse ponto que citou Luis 14, o soberano do “Estado sou eu”.
Serra disse que o tempo dos governantes acreditavam personificar o Estado “ficou pra trás há mais de 300 anos”.
“Luis 14 achava que o estado era ele. Nas democracias e no Brasil, não há lugar para luíses assim".
A seguir, uma estocada em Dilma. Coisa indireta, mas forte. Insinuou que a rival, sem votos próprios, caiu na campanha de “paraquedas”.
Pôs-se, então, a realçar a própria biografia: "Eu não comecei ontem, eu não caí de paraquedas...”
“[...] Fui quase tudo: secretário de Estado, deputado constituinte, deputado federal, senador...”
“...Ministro duas vezes, prefeito, governador. Tenho a honra e o orgulho de ter recebido, em minha vida, mais de 80 milhões de votos".
Uma crítica ao estilo que o tucanato atribui ao PT de Lula e Dilma: "Não tenho esquemas, não tenho máquinas oficiais, não tenho patotas corporativas...”
“...Não tenho padrinhos, não tenho esquadrões de militantes pagos com dinheiro público. Tenho apenas a minha história de vida, minha biografia e minhas ideias".
De volta a Lula, fez ressalvas às relações dele com governantes estrangeiros de reputação controversa. Disse que valoriza os direitos humanos. E vergastou:
“Não fica bem contiuamente elogiar ditadores de todos os cantos do planeta. Só porque esses ditadores são aliados do partido do governo”.
Fez, então, alusão às relações promíscuas do governo com o Legislativo: "Acredito no Congresso Nacional como a principal arena do debate e do entendimento político...”
Palco “...da negociação responsável sobre as novas leis, e não como arena de mensalões, compra de votos e de silêncios".
Nos próximos dias, vai-se saber se o Serra de timbre mais azedo é um fenômeno de convenção ou se veio pra ficar.
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