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sexta-feira, 25 de junho de 2010

Vida Nova.

Hoje terminou, burocraticamente, minha vida como Agente de Fiscalização da Prefeitura de Guarulhos. Foi uma vida de pouco mais de 14 anos. Curta, sim, mas interessante.

Foi marcante, por ter sido marcada por vários eventos através dos quais fui sendo construído, não digo como sujeito, pois é esse um conceito problemático, mas como pessoa, um ser humano que existe dentro de um mundo com os outros em situação histórica, social, econômica e afetiva.
Quero escolher um evento que possa dizer algo sobre minha passagem pela Prefeitura de Guarulhos. Não é um evento ligado ao trabalho de fiscalização, mas que diz muito do que foi ser Agente de Fiscalização em Guarulhos.

Foi durante uma reunião com todos os Servidores Públicos Estatutários da Prefeitura, na qual dirigentes do ipref (instituto de previdência dos funcionários estatutarios da Prefeitura) e da administração pública explicavam a nós, Servidores, como seria a reforma de nossa previdência.

A reforma do ipref em si é um capítulo a parte em minha trajetória no serviço público municipal em Guarulhos, e ficará para um texto posterior (porque eu vou, realmente, escrever sobre isso, apenas por um compromisso com algo que eu chamo de memória, e que pode ser entendido como história - se a palavra mata a coisa, o esquecimento mata o ser político e ético, e eu quero continuar vivo até o dia da minha morte).

Após as explicações de como seria feita a reforma, das motivações legais e do velamento das motivações políticas e eleitorais da reforma, os dirigentes do ipref e da Prefeitura abriram a palavra para que fizéssemos perguntas. Porém, cada Servidor teria apenas um minuto e meio apra fazer seu questionamento. Muito justo, é claro. Afinal, ficamos uns quarenta minutos apenas escutando e qualquer pessoa de inteligência média conseguiria abstrair toda indignação com relação à reforma do ipref, conduzida com mão de ferro pela Prefeitura, e elaborar uma questão sobre um tema complexo em um minuto e meio. É óbvio.

Eu fui o quarto ou quinto inscrito para fazer uma pergunta, depois de ter assistido alguns Amigos meus tentarem se virar nos um minuto e trinta segundos para elaborarem suas questões, com pouco sucesso.

Eu nunca fui muito apressado. Na verdade, considero-me meio preguiçoso mesmo. Quem já almoçou ou jantou comigo sabe - gosto de comer devagar, sem pressa, e se estiver conversando então...

Bem, eu sabia que nunca conseguiria fazer uma pergunta que se preze em um minuto e meio. mas como eu já havia me inscrito, tinha que ir lá fazer minha parte. Na época eu era Diretor do Sindicato do Servidores Municipais de Guarulhos (outra historinha à parte...) e não podia fazer feio...

Eu já fui logo avisando que ia precisar de mais tempo, que um minuto e meio era pouco, e coisa e tal. Só nesse início de conversa já gastei meu um minuto e meio. Ficaram com pena de mim e disseram eu poderia falar o tempo que eu precisasse. E eu falei.

Não que eu precisasse usar todo o tempo que usei para falar o que eu queria falar. Mas devo ter falado uns vinte minutos. Sem parar. Falei tudo o que queria, pelo menos sobre a reforma do ipref. Fui bastante respeitoso com aqueles que me concederam o tempo extra.

Acontece que não foram os dirigentes do ipref e da Prefeitura que em concederam o tempo extra. Não. Foram os Servidores que estavam lá na reunião.

Eu peguei naquele microfone e disse que ia falar o quanto eu quisesse, e desembestei a falar. Quando insistiam que o meu tempo tinha acabado, eu perguntava para os meus Amigos se eles queriam que eu parasse de falar. O pessoa falava que não, e eu continuava falando.

Pensei mesmo que iriam cortar o som ou tomar o microfone da minha mão. Na verdade, eu esperava mesmo que fizessem isso. Ficava pensando comigo: jajá vem alguém aqui e tira esse microfone da minha mão, e aí o tempo fecha.

Os dirigentes do ipref e da Prefeitura demonstraram rara inteligência no episódio, e ficaram só olhando, sem saber o que fazer, ou na verdade sabendo muito bem - "Deixem esse doido falar. Palavras doem nos ouvidos, mas não deixam hematomas".

Foi muito louco. Não resta a menor dúvida que esse relato tem muito de narcisismo. Eu adoro relatar o fato. Mas há algo no relato que nunca transparece - o motivo da minha indignação.

Eu não estava indignado pelo fim do nosso sistema de saúde custeado pelo ipref. Foi uma luta dura, e perdemos, mas lutamos bem. A minha indignação tinha outro motivo, de ordem menos política, mas bem mais própria, minha.

Eu conheci várias pessoas na Prefeitura, e de algumas delas tornei-me Amigo. Pessoas que eu admiro, que me servem de referência e para com as quais eu tenho um cuidado de Irmão. Eu fiquei indignado porque não deixaram alguns desses meus Amigos falarem. E eu sou muito passional. Extremamente passional. Lembram da máxima da sabedoria pacifista - "amigo que é amigo não aparta briga, mas chega dando voadora no peito"? É bem por aí.

Eu falei um monte de coisas naquele dia, e todas elas queriam dizer apenas isso: não mexam com meus Amigos.

Esse texto é uma homenagem a vocês, aos meus Amigos e Amigas que fiz enquanto fui Agente de Fiscalização da Prefeitura. E só pra constar: a máxima continua válida. Agora, além de chegar dando voadora no peito, já chego mostrando a OAB também.

Abraços a todos vocês.

Leandro Caetano dos Santos

Um comentário:

  1. -O Leandro é um daqueles poucos que podemos falar sem economizar adjetivos, e mesmo assim, não conseguimos expressar a grandiosidade do seu ser. È muito bacana e é bem do meu feitio, elogiar os amigos em vida, pelo fato de que ainda posso o encontrar e parabenizar, pessoalmente, por suas virtudes;

    -O Leandro é um daqueles poucos que incomoda aos maus, aos pilantras, aos incompetentes, aos subservientes, aos corruptos e corruptíveis, justamente pelo fato de que não conseguem cooptá-lo, dobrá-lo ou intimidá-lo;

    -O Leandro é um companheiro; na verdadeira concepção da palavra, companheiro que compartilha a sua amizade, a sua destreza, o seu saber, seu pão e suas mais preciosas horas;

    -O Leandro é, foi e sempre será um amigo de fé, de todas as horas, um irmão camarada.

    Parece paradoxal, no entanto não é, a vitória dos justos é mais difícil, mais suada, mais trabalhosa, no entanto é uma vitória verdadeira, perene e definitiva. Esta sua “nova vida” é apenas um novo estágio desta sua vida vitoriosa como ser humano, profissional e acima de tudo amigo.

    Um abraço fraterno.
    Chico Brito

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