José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva foram à Marcha dos Prefeitos, em Brasília. Fizeram exposições e responderam a perguntas.
Os organizadores da marcha pretendiam exibir um vídeo. Na peça, em formato de gibi, um resumo da saga “do pires na mão”. A fita não foi rodada.
Por quê? A assessoria de Dilma enxergou no enredo um quê de antigovernismo. E bateu o pé. Ou Dilma ou a fita. Os prefeitos ficaram com a primeira.
As repórteres Renata Lo Prete e Letícia Sander contam que, ao falar aos prefeitos, Serra cutucou, mais de uma vez: “Cadê o vídeo”. E nada.
Ao concluir sua exposição, Dilma foi abordada por repórteres. E o vídeo? Ela negou envolvimento no veto. Disse que desconhecia o assunto.
O famigerado vídeo pode ser assistido lá no alto. Expõe um flagelo comum a todos os governos, não apenas à gestão Lula.
Conta, passo a passo, a trilha que o prefeito tem de percorrer para obter verbas federais.
Recolhe as demandas dos munícipes. Procuram congressistas amigos no Congresso. Enfiam emendas no Orçamento da União.
Depois, viajam à Capital “uma, duas, três vezes, para obter a liberação das verbas. Na Caixa, entregam uma montanha de documentos.
Na versão do vídeo, a primeira parcela da emenda parlamentar é retida. Exige-se do prefeito que renuncie a ações judiciais em que questiona dívidas com a União.
Dívidas que, no dizer dos prefeitos, não existem. Quem se submete leva a primeira parcela da dívida. Inicia a obra.
Súbito, a burocracia federal segura a segunda parcela. O prefeito vê-se compelido a pagar à empreiteira com recursos das arcas municipais.
Em suas derradeiras cenas, o vídeo que a equipe de Dilma vetou mostra o prefeito indo à garra, algemado e empurrado para dentro de um camburão.
Segue-se um letreiro com os nomes das diversas operações da Polícia Federal que resultaram em acusações de corrupção contra prefeitos.
É pena que os prefeitos tenham aceitado a censura. O vídeo não exibido expõe um circuito que, entra governo, sai governo, é marcado pelo malfeito.
A visão exposta na peça é simplória. O prefeito, de fato, é submetido a um calvário burocrático. Mas o grosso da corrupção não nasce aí.
Começa na formação do caixa da campanha, cresce no relacionamento promíscuo do prefeito com o congressista...
...Viceja nas dobras de licitações manjadas de obras superfaturadas, prossegue no “quanto é que eu levo nisso” dos gabinetes da Esplanada...
...E termina no grande “racha” que tunga as verbas que o Estado vai buscar no bolso do contribuinte brasileiro.
Pena que os presidenciáveis não tenham desperdiçado um naco do tempo de suas exposições para dizer meia dúzia de palavras sobre a encrenca.
Ficou boiando no ar uma pergunta incômoda: por que diabos a turma de Dilma vetou o vídeo?
- Atualização feita às 17h32 desta quarta (19): O presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, confirmou: a assessoria de Dilma vetou a exibição do vídeo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário será exibido após aprovado pelo moderador. Aceitamos todas as críticas, menos ofensas pessoais sem a devida identificação do autor. Obrigado pela visita.