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domingo, 9 de maio de 2010

DEMOCRACIA OU BARBÁRIE.

O pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB, Geraldo Alckmin, concedeu entrevistas a vários veículos neste fim de semana. Ontem, o partido lançou a sua pré-candidatura ao governo de São Paulo. Se a eleição fosse hoje, ele venceria a disputa no primeiro turno com uma vantagem gigantesca sobre o segundo lugar, o senador petista Aloizio Mercadante: 53% a 13%. Chega a ser engraçada a abordagem que se nota aqui e ali. Os entrevistadores querem saber se Alckmin tem alguma coisa nova a oferecer ou se promete apenas a continuidade. Curiosidade do escriba: por que não se faz questão idêntica à candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff? No caso dela, basta colocar-se como candidata a liderar o terceiro mandato de Lula?

Alckmin já foi governador de São Paulo e deixou o cargo em 2006 para disputar a Presidência com ampla aprovação do eleitorado: venceu Lula no estado, repetindo feito de José Serra em 2002. Candidata-se agora a suceder um correligionário, o próprio Serra, igualmente bem-avaliado pelos paulistas. Por que ele não pode, então, fazer como Dilma e prometer a continuidade sem que isso seja tratado como um defeito?

Fala-se mesmo que um quinto governo tucano no Estado pode não ser saudável para a democracia (!?) porque isso comprometeria um de seus primados, que é alternância de poder. Vamos com calma, aí! A democracia está na POSSIBILIDADE DA ALTERNÂNCIA. Se o eleitorado quer a continuidade e expressa essa vontade nas urnas, não há nada de real ou potencialmente antidemocrático nisso. A questão é outra. Quando se fala aqui sobre a intolerância no petismo e sua incapacidade de entender a democracia, especialmente a alternância de poder, a crítica não é dirigida ao fato de o partido disputar eleições e querer ganhar.

O PT agride o princípio da alternância e a essência da democracia quando sataniza os adversários e tenta criminalizar o jogo político, como se eles cometessem uma grave ofensa ao disputar o poder. Vejam o que diz o tal jornal “Movimentos”, sobre o qual já escrevi aqui. Segundo os petistas, as oposições estão tentando reproduzir o clima golpista de 1964. O oponente não é alguém a ser vencido nas urnas, de acordo com as regras do jogo. Não! Ele seria líder de uma espécie de conspiração e tem de ser esmagado. E, aí, vale literalmente tudo, como já vimos em outras circunstâncias.

Agride o princípio da alternância aquele que considera que a única coisa inaceitável é perder; para evitar a derrota, então, todos os meios seriam lícitos: do mensalão aos aloprados. As inserções publicitárias que o PT chegou a levar ao ar, suspensas pelo TSE, são um emblema dessa postura. Vá lá que elas exaltassem os “feitos” de Lula e até da própria Dilma. Mas o partido foi muito além: ou se está com o governismo ou se opta pela volta ao passado e seus supostos horrores; ou se está com a candidata petista ou se aposta na “barbárie”.

Essa leitura do mundo — que é a de Lula — vazou para o jornalismo. Com raras exceções, ele está pré-pautado para o jogo plebiscitário. Ontem, na festa de anúncio da candidatura de Alckmin, Serra afirmou que um governo tem de trabalhar desde o primeiro dia em vez deixar tudo para o último ano etc. E um dos portais registrou: “Serra ataca Lula e diz que…” Não havia ataque nenhum.

Em seu discurso, Alckmin exaltou a “esperança”. No Estadão Online, havia um texto afirmando que o tucano copiara o lema petista de 2002: “A esperança venceu o medo”. Estaria a palavra “esperança”, agora, interditada? Será que o Lulo-petismo privatizou algumas delas? Sem contar que aquele bordão buscava levar um partido de oposição ao poder; Alckmin, como está dado, é a continuidade.

O que não interessa à democracia é o Jogo plebiscitário, é a suposta batalha entre o “Bem” e o “Mal”, da qual Serra tem sabido se esquivar com notável competência. Isso, sim, agride o princípio da alternância. É como dizer: “Meu adversário não pode vencer porque isso significaria uma regressão da política”. Nesse caso, a primeira vítima é a verdade: é preciso tirar tudo do oponente, não lhe reconhecer um miserável mérito, nada. Nessa formulação, as oposições não estariam disputando o poder, mas tentando sabotar a sociedade e as “conquistas” do povo.

A cobertura jornalística também pode ajudar a civilizar o processo político. O plebiscito, de fato, é outro: democracia ou barbárie?

Reinaldo Azevedo

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