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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Atacada por Lula, procuradora já votou nele 3 vezes.

No TSE, Sandra Cureau alvejou mais Serra do que Dilma

Há duas décadas, grávida aos 42 anos, Sandra Cureau foi à Cinelândia, no Rio, para assistir a um comício do PT. Corria o ano da primeira eleição presidencial pós-redemocratização. “Votei no Lula em 89, no primeiro e no segundo turnos”, ela recorda.

Decorridos 21 anos, em comício realizado na mesma Cinelândia, Lula referiu-se à ex-eleitora, hoje vice-procuradora-geral eleitoral, de maneira depreciativa. Chamou-a de “uma procuradora qualquer”. Sem mencionar-lhe o nome, disse que ela tenta retirá-lo da campanha de Dilma Rousseff.

O voto de 89 não foi o único que a doutora, hoje com 63 anos, entregou a Lula. “Votei nele de novo em 94 ou 98, não me lembro. Num ano votei no Lula e, no outro, no Fernando Henrique. Em 2002, votei no Lula de novo”.

E quanto a 2006? “Não votei, estava trabalhando nas eleições como procuradora eleitoral”.

Sandra Cureau recebeu em seu gabinete os repórteres Eliane Cantanhêde, Valdo Cruz e Felipe Seligman. A conversa foi levada às páginas da Folha.

Nas pegadas do lero-lero palanqueiro de Lula, o PT passou a esgrimir a ameaça de representar contra Sandra no Conselho do Ministério Público. O partido abespinhou-se porque a procuradora enxergou “abuso de poder” nas menções que Lula fez a Dilma em duas solenidades oficiais.

A transgressão pode render a Lula um novo pedido de multa no TSE. “Estou esperando a gravação”, diz Sandra. “Não basta apenas notícia de jornal”. E quanto à acusação de partidarismo feita pelo PT? Sandra responde com outra indagação: “Eles não fazem as contas?”

A repórter Mariângela Gallucci fez, por dever funcional, as contas que o petismo se absteve de fazer. Ela foi aos arquivos do TSE. Descobriu que, tomada pelas ações que levou ao tribunal, Sandra Cureau implica mais com o tucanato do que com o petismo.

Contra José Serra e o PSDB, a procuradora já ajuizou 16 representações. Contra o PT e Dilma Rousseff, apenas 12. Os números convertem a suspeita de “perseguição” em balela. E a ameaça de retaliação do PT em burrice.

Sandra diz não ter ficado aborrecida com a qualificação de “procuradora qualquer”. Recorda que Lula não citou o seu nome. Concorda que, por dedução, pode-se concluir que era ela o alvo da referência. Mas faz uma concessão à dúvida: “Seria desonesto dizer que me deu uma cacetada”.

“O que me incomodou foi uma visão meio depreciativa do Ministério Público. Não sou nada, as pessoas podem achar de mim o que quiserem, mas a instituição...”

Há o risco de impugnação de alguma candidatura presidencial? “As multas aplicadas até aqui, sozinhas, não são capazes de impugnar”, diz Sandra. “Não houve até aqui situações que possam caracterizar desequilíbrio das eleições...”

“...Teria de ter um ato que fizesse uma candidatura subir astronomicamente nas pesquisas. Isso não aconteceu. Quanto mais importante o cargo, mais cuidadoso você tem de ser, para não cair no golpismo”.

Como assim? “Golpismo no sentido de alguém fazer uma artimanha para afastar o outro da eleição, pegar um ato apenas. Por isso tem de ser algo que desequilibre as eleições para levar a uma impugnação”. Ela acha que as multas previstas em lei eleitoral (no máximo R$ 25 mil) "são muito baixas".

De resto, olha para o Judiciário de esguelha: "No Brasil, temos um exagero de recursos. Quem tem condição de pagar um excelente advogado pode se sustentar até cumprir o mandato ou, ao contrário, consegue prescrever ação penal e derrubar o adversário que ganhou".

Acrescenta: "Processo envolvendo pessoas poderosas não dá em nada. Achava extremamente frustrante na área penal. Vamos ver na eleitoral".

Perguntou-se à doutora em quem vai votar. E ela: “Tem hora que aparece alguém que desponta como uma esperança, tem hora que não aparece. Ainda não decidi”. Insistiu-se: Gostaria de votar numa mulher? Sandra tergiversou: “Gostaria que tivéssemos uma mulher presidente, mas não sei em quem votar”.

Arrependeu-se de ter votado em Lula? “Não. Eu o acho uma pessoa extremamente carismática, com uma capacidade enorme de interagir com o povo. É inegável”.

Acha que fez um bom governo? “Parece-me que sim. Tanto ele como o Fernando Henrique fizeram bons governos”. Quem diria! O PT converteu em alvo uma procuradora que, tendo votado três vezes em Lula, considera-o carismático e bom governante.

Nunca antes na história desse país uma agremiação partidária demonstrara ter tanto desapreço pelo próprio pé.

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