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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Em depoimento contraditório, vigia relata tortura e chama delegado de mentiroso.

foto Robson Ventura

No segundo interrogatório desta quinta-feira (21) da audiência de instrução do processo judicial sobre a morte da advogada Mércia Nakashima, o réu e vigia Evandro Bezerra da Silva entrou em contradição várias vezes e afirmou ter sido torturado para assumir sua participação no crime, versão presente nos primeiros depoimentos colhidos dele ainda no dia de sua prisão em Sergipe.

O interrogado, por pelo menos duas vezes, afirmou categoricamente que o delegado responsável pelo caso, Antonio de Olim, do Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), mentiu.

A primeira contradição do vigia foi não ter uma explicação para a viagem que fez para Sergipe no dia 12 de junho, um dia após o corpo da advogada ter sido encontrado em uma represa em Nazaré Paulista, na Grande São Paulo.

O juiz questionou o réu sobre o motivo da ida ao Nordeste. Ele afirmou, então, que teria ido “passear”. O magistrado rebateu, questionando o fato de que nenhum de seus familiares sabia de tal plano.

Como contou o magistrado, o delegado esteve na casa de familiares de Evandro e ouviu que ninguém tinha notícias do paradeiro dele.

Tortura e mentira
O primeiro depoimento oficial do vigia aconteceu no dia de sua prisão na cidade sergipana de Canindé de São Francisco. Nessa oportunidade, ele negou qualquer participação no crime.

Chegando a Aracaju, ele foi levado para a sede da polícia onde encontrou Olim. Foi a partir de então, segundo ele contou hoje, que investigadores e delegados começaram a pressioná-lo a mudar sua argumentação.

Ele narrou ao juiz que na ocasião foi torturado e asfixiado em uma sala até que, por medo, teria optado por passar a afirmar que tinha dado carona para Mizael matar Mércia.

Ao responder as perguntas do promotor Rodrigo Merli, como complemento de seu depoimento, o vigia disse que o delgado Olim, no avião de volta para São Paulo, tinha o orientado a dizer que os réus haviam encontrado uma barreira policial ao sair da represa onde a vítima foi morta.

No entanto, o promotor lembrou que, ainda em Aracaju, o vigia já tinha citado a existência dessa blitz. Merli questionou a incoerência. “Então o delegado mentiu?”, perguntou o promotor. Evandro respondeu que sim, mudando a versão e afirmando que Olim, na verdade, já tinha o orientado a citar a barreira policial quando eles ainda estavam em Aracaju.

O crime
Mércia foi vista pela última vez no dia 23 de maio da casa dos avós em Guarulhos. Foi encontrada morta em 11 de junho na represa de Nazaré Paulista. Segundo a perícia, a advogada foi agredida, baleada, teve a mandíbula quebrada e morreu afogada dentro do próprio carro no mesmo dia em que sumiu.

Para o Ministério Público, Souza matou a ex-namorada movido por ciúmes, e o vigilante Evandro Bezerra Silva o ajudou na empreitada criminosa. O promotor alegou que as provas determinantes para o convencer da autoria do crime foram a quebra do sigilo telefônico e os depoimentos contraditórios de Souza.

Um laudo pericial reforça a suspeita sobre Souza ao apontar a presença de uma alga, que seria compatível com alga presente na represa, em seu sapato. Além da alga, foram encontrados na sola do sapato resíduos de chumbo compatíveis com a bala que feriu Mércia, uma possível mancha de sangue e um pedaço de osso.

Arthur Guimarães
Do UOL Notícias
Em São Paulo

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