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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Justiça ouve testemunhas de defesa no segundo dia de audiência do caso Mércia.

Rivaldo Gomes
Arthur Guimarães
Do UOL Notícias
Em São Paulo

A audiência do processo sobre a morte da advogada Mércia Nakashima entra no segundo dia nesta terça-feira (19), no Fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo. A sessão está marcada para começar às 13h. Mércia desapareceu em 23 de maio e foi encontrada morta em 11 de junho. Os réus no caso são o advogado Mizael Bispo de Souza, ex-namorado da vítima, e seu suposto comparsa, segundo a polícia, o vigia Evandro Bezerra da Silva.

Nesta terça-feira devem ser ouvidas as testemunhas arroladas pela defesa: os advogados de Mizael querem ouvir oito pessoas, enquanto a defesa de Evandro inscreveu sete pessoas para serem ouvidas pelo juiz Leandro Jorge Bittencourt. Também devem ser interrogadas três outras testemunhas de juízo, ou seja, que foram designadas pelo próprio juiz.

Por conta do grande volume de interrogatórios previstos, a participação dos réus deve acontecer somente na quarta-feira (20), dia estimado para o término dos trabalhos.

Após o fim da audiência, o magistrado deve determinar se os réus vão ou não a júri popular –o juiz pode decidir a questão na hora ou em até dez dias.

Primeiro dia

O primeiro dia da audiência de instrução do caso terminou por volta das 18h de segunda-feira (18) e ouviu sete testemunhas de acusação. A primeira a ser interrogada foi a irmã de Mércia, Cláudia Nakashima. Ela contou que sua irmã vivia um relacionamento repleto de atritos com Mizael. “Ele era muito ciumento, não deixava a Mércia conversar com ninguém. Era muito grosso”, disse.

Segundo ela, depois que o réu perdeu a eleição de 2008, na qual disputava um cargo de vereador em Guarulhos, o desgaste entre o casal piorou. Cláudia disse não saber o motivo de tal mudança, pois sua irmã era muito “reservada” e tinha “medo” de falar de seus problemas com o então namorado, mas afirmou que a derrota teria sido um marco para os problemas na relação. “Desde então, ela tinha ódio dele. No final, só piorou”, relatou ao juiz.

Foi ouvido também o irmão de Mércia, Márcio Nakashima, que ressaltou que sua família vem recebendo ameaças. “É um excesso de coincidências”, disse, ao afirmar que seus parentes recebem telefonemas anônimos com ameaças e enfrentam outros acontecimentos suspeitos. Ele contou, por exemplo, que recentemente bateram em seu carro quando ele andava por Guarulhos e, na ocasião, o motorista do outro veículo foi agressivo. Mais tarde, Márcio descobriu que o rapaz era um policial militar que trabalhava na cidade, assim como Mizael.

Outro interrogado foi o investigador Alexandre S. Silva, policial do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que revelou detalhes e bastidores de todo rastreamento telefônico feito nos celulares de Mizael e Evandro.

Uma das informações mais importantes relatadas é a de que nas semanas anteriores ao desaparecimento de Mércia, das 41 ligações que aconteceram entre ela e Mizael, a maioria foi feita pela advogada. A informação difere da afirmação da família da vítima, que diz que era ele quem a procurava constantemente.

Mais testemunhas

Também foi ouvido o frentista Jurandi da Silva, que afirmou ter presenciado diversos encontros entre Evandro e Mizael, em um posto onde o primeiro trabalhava, dias antes do desaparecimento de Mércia. Ainda segundo Jurandi, após o sumiço da advogada os encontros nunca mais ocorreram.

Antes do frentista, quem também depôs foi Bruno da Silva Oliveira, guardador de carros do hospital geral de Guarulhos. Ele confirmou ter visto Mizael deixar o carro no estacionamento da unidade de saúde por volta de 18h do dia 23 de maio e retirá-lo às 22h. As informações atestam a versão da polícia de que o suspeito teria deixado o carro no hospital, pegado carona em outro veículo e viajado até a represa de Nazaré Paulista (SP), onde Mércia teria sido morta.

O primeiro dia de audiência terminou com uma testemunha sigilosa. Por um pedido do interrogado, a sala em que acontecia a audiência foi esvaziada e apenas os advogados permaneceram no local.

Apesar do segredo, tudo indica que a testemunha é o pescador que afirmou às autoridades policiais ter ouvido gritos de uma mulher e ter visto um carro sendo empurrado para dentro da represa onde o corpo de Mércia foi encontrado. O pescador seria a única testemunha ocular do crime, segundo a versão da polícia. A reconstituição do caso, aliás, usou como base os relatos do pescador.

O caso

Mércia foi vista pela última vez no dia 23 de maio da casa dos avós em Guarulhos. Foi encontrada morta em 11 de junho na represa de Nazaré Paulista. Segundo a perícia, a advogada foi agredida, baleada, teve a mandíbula quebrada e morreu afogada dentro do próprio carro no mesmo dia em que sumiu.

Para o Ministério Público, Souza matou a ex-namorada movido por ciúmes, e o vigilante Evandro Bezerra Silva o ajudou na empreitada criminosa. O promotor alegou que as provas determinantes para o convencer da autoria do crime foram a quebra do sigilo telefônico e os depoimentos contraditórios de Souza. O ex-policial tinha um celular, registrado em nome de terceiros, em que conversou 16 vezes com o suposto comparsa no dia estimado do crime. Além disso, a polícia descobriu que, sempre que falava com o vigia, voltava a ligar para a ex-namorada.

Um laudo pericial reforça a suspeita sobre Souza ao apontar a presença de uma alga, que seria compatível com alga presente na represa, em seu sapato. Além da alga, foram encontrados na sola do sapato resíduos de chumbo compatíveis com a bala que feriu Mércia, uma mancha de sangue e um pedaço de osso. Souza nega as acusações.

Publicado em conformidade com a LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 Art. 46, inciso I, letra a).

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