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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

No Brasil, os cristãos conservadores fazem campanha contra Dilma Rousseff.


Jean-Pierre Langellier
 
Alerta ao povo de Deus. Uni-vos. Não votem em Dilma Rousseff! “Dilma é a favor do aborto. Aqui está a prova”, “Diga não a Dilma, diga sim à vida!”. Slogans desse gênero, contrários à favorita na corrida presidencial, circularam pela internet durante as semanas que precederam o primeiro turno da votação, no domingo (3). Em um ritmo desenfreado, e cada vez mais numerosos à medida que a data se aproximava.

Para “Dilma”, como é chamada aqui, não há nenhuma dúvida: a campanha, que a tomou por alvo e a seu ver é caluniosa, contribuiu grandemente para privá-la de uma vitória no primeiro turno. Com 46,9% dos votos, sob a bandeira do Partido dos Trabalhadores (PT), a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem boas chances de vencer o segundo turno que disputará com o social-democrata José Serra (32,6% dos votos) no dia 31 de outubro. Com 19,3%, a candidata verde Marina Silva, ainda que eliminada da corrida, foi a grande vencedora do primeiro turno. Foi ela que, com seu resultado brilhante, levou Rousseff a ter de disputar o segundo turno.

Tema dominante

As instruções de votos anti-Dilma são assinadas: elas vêm dos meios cristãos conservadores, católicos e, sobretudo, evangélicos. Elas acompanham vídeos que misturam sermões de padres ou pastores, citações ou trechos de entrevistas da candidata. Objetivo dessas montagens: evidenciar possíveis contradições nos discursos de Dilma, e fazer com que ela passe por uma perigosa anticristã.

Exemplo: em uma homilia, já vista 3 milhões de vezes na internet, o pastor Paschoal Piragine, de Curitiba (sul do Brasil), pede para que “não votem em Dilma”. É a primeira vez, diz, em trinta anos de sacerdócio, que ele dá uma palavra de ordem como essa durante um culto. Em seguida ele exibe um vídeo com críticas à homossexualidade, à pornografia, à pedofilia, ao divórcio, à violência doméstica, ao infanticídio e, num ápice, ao aborto. Nesse filme se vê uma mulher espancada e uma criança enterrada viva. A última sequência, ilustrada por fetos ensanguentados, termina com um apelo: “Igreja brasileira, reaja!”. O aborto é o tema dominante dessa cruzada anti-Dilma. Em nome do “direito à vida” garantido pela Constituição de 1988, a interrupção da gestação é proibida, exceto em caso de estupro ou de risco de morte para a mãe. É um “crime” que o governo Lula tentou descriminalizar. Em vão. Ele teve de bater em retirada diante dos protestos da Igreja Católica.

No passado, Dilma Rousseff, fiel ao programa do PT, defendeu a legalização do aborto, por razões de saúde pública. Foi o que declarou ainda ao jornal “Folha de São Paulo” em 2007 e à revista “Marie Claire” em 2009. Ora, desde que ela se tornou candidata pelo PT, seu discurso mudou. Ela afirma querer manter a lei como está, assim como 68% dos brasileiros, favoráveis ao status quo, segundo uma pesquisa de 2008.

Hipocrisia

Nessa questão, a Igreja Católica tem mostrado uma certa hipocrisia. A Conferência Nacional dos Bispos repete que ela é politicamente “neutra” e nunca deu nenhuma instrução de voto. Mas ela bem que se absteve, até agora, de condenar os autores dos ataques, às vezes violentos, contra Rousseff.

A candidata denuncia uma campanha mentirosa saída do “submundo político”. Ela desmente ter dito, por exemplo, que “nem Jesus lhe tiraria essa vitória”. No dia 24 de agosto, ela publicou uma “carta ao povo de Deus”, onde pedia aos cristãos por suas “preces” e seus “votos”. Foi quando ela começou a cair nas intenções de votos entre os evangélicos.

Sua equipe de campanha reagiu tardiamente. Quatro dias antes da votação, Dilma Rousseff organizou um encontro com líderes católicos e evangélicos e ressaltou que ela “respeitava a vida”. Dois dias antes da eleição, ela assistiu ao batismo de sua neta em Porto Alegre. Essa filha de comunistas, que antigamente se dizia “não-praticante”, “meio descrente”, lembrou que ela era católica e que também foi batizada.

Essas palavras e gestos não bastaram para deter o movimento de desconfiança em relação a ela. Uma parte dos eleitores evangélicos preferiram Marina Silva, candidata ideal aos olhos dos pastores e de seu rebanho, uma vez que ela é discípula da Assembleia de Deus, a mais importante igreja pentecostal do Brasil

Tradução: Lana Lim

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